Vamos encarar os factos: nós somos uns falhados. Podemos não o dizer a ninguém, podemos esconder de nós próprios, mas não conseguimos evitar aqueles pensamentos marotos:
Nenhuma relação que tenho bate certo.
No trabalho só faço asneira.
Sinto-me a ficar para trás.
Tenho vergonha da minha forma física.
Rapidamente nos consideramos um falhanço monumental, e a verdade é que o somos. Apesar de nos babarmos só a imaginar uma vida de suposto sucesso – família perfeita, carreira respeitável, dinheiro abundante e aparência invejável – a verdade é que a nossa vida está cheia falhanços desastrosos.
As boas notícias é que há várias vantagens em ser um falhado:
1. Só não falha quem não tenta.
Normalmente quem é um falhanço é porque tentou alguma coisa. Quer tenha sido lançar uma empresa, começar uma relação, candidatar-se a um trabalho, só o acto de tentar já é memorável. Tudo o que vale a pena fazer, vale a pena falhar a tentar. Só não falha quem não tenta.
2. Quem não falha não tem amigos.
Ninguém é muito amigo de uma pessoa que nunca falha. As pessoas invulneráveis, seguras de si e cheias do seu sucesso não dão espaço para mais ninguém. Pelo contrário, é natural sentirmo-nos próximos de alguém que confessou um seu falhanço: Ah ele também passou por isto? Que engraçado eu também… Ah ele fez aquilo?… curioso como fiz uma coisa parecida…
Partilhar os nossos fracassos, mostrar vulnerabilidade, é um caminho aberto para relações genuínas.
3. Muitos falhanços fazem um humilde.
Apesar de ser uma chatice, o caminho mais seguro para quem quer ser humilde é ser humilhado muitas vezes. E para se sentir humilhado nada como uma boa dose de falhanços. Eles magoam o nosso orgulho e vaidade mas devolvem-nos a nossa justa dimensão. Muitas vezes as pessoas mais humildes são as que sabem que muito falharam.
4. Cresce-se mais a falhar.
As alturas de maior crescimento na nossa vida não são quando fazemos tudo bem, mas quando falhamos e temos consciência da razão pela qual falhamos. Curiosamente, quando as coisas correm bem nem sempre crescemos muito, porque nem nos damos ao trabalho de pensar no que fez as coisas correr bem. Pelo contrário, o falhanço é um reality check muito mais persuasivo: obriga-nos a encarar de frente o que fizemos e como o poderíamos ter feito melhor. O crescimento mais eficaz pode vir quando damos um espalho monumental.
5. Um falhado pode arriscar mais.
As pessoas que fazem tudo bem, costumam ter muitas coisas a que se agarrar. E por terem muitas coisas, têm também muito a perder. Pelo contrário, os falhados têm pouco a perder, e por isso, podem arriscar mais. No trabalho, por exemplo, a reputação de quem arrisca muitas vezes e vence algumas, será provavelmente melhor do que quem tem medo de falhar e tenta apenas coisas seguras. Os falhados podem arriscar mais, e por isso mesmo têm muito mais a ganhar.
6. Os falhados têm mais humor.
Uma pessoa até pode ter convicções opostas às nossas, mas se tiver sentido de humor até nos entendemos. Com o sentido de humor conseguimos fazer coisas extraordinárias. Acontece que os falhados confrontam-se regularmente com as suas figuras rídiculas, com surpresas desastradas e com acontecimentos inesperados, e isso já é meio caminho andado para se ter mais sentido de humor. Os certinhos acabam por ser tremendamente aborrecidos, e os falhados… ao menos esses são bem mais divertidos.
7. Ninguém espera muito dos falhados.
Os holofotes costumam estar virados para as pessoas bem sucedidas. Isso acaba por ser uma tremenda vantagem para os falhados – porque estão fora do radar – e por isso têm muito mais liberdade para surpreender toda a gente. Ninguém espera grande coisa de um falhado, tal como ninguém quer apostar no cavalo mais lento. Mas são esses falhados que podem surpreender tudo e todos aparecendo do nada com uma ideia revolucionária, com uma relação fabulosa ou com um projecto maravilhoso.
Por estas e por outras razões o falhanço tem-se tornado uma ocupação cada vez mais nobre.
Mas para se ser bem sucedido nesta ocupação… é preciso ser um verdadeiro falhanço.
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