Geralmente as pessoas gostam de se ver.
Imaginemos: Estou a ver um álbum de fotografias de uma festa a que fui. Sejamos honestos, quem é que estou à procura de ver? Ah pois é… das duas uma: ou estou à procura de mim, ou de alguém que gosto muito. Uma coisa engraçada é ver como em público fazemos comentários genéricos – “ah fiquei péssimo”; “ah, apaga isso!” e fingimos pouco interesse. Mas depois, no recato das nossas casas, na solidão dos nossos pcs ou macs, analisamos detalhadamente cada fotografia. Ou talvez não.
Nota idiota 1:
Ninguém põe fotografias de perfil na internet em que esteja francamente mal. A maioria dos meus amigos e amigas no Facebook parecem modelos e com vidas super interessantes. Não é que não sejam, mas caraças pá, não estás assim tão gata todos os dias. Nem tu, tão musculado a sair da piscina com esse sorriso matador.
Nota idiota 2:
Era giro iniciar um movimento dos não fotogénicos. Escolher como perfil fotografias em que estamos especialmente mal. Vantagens: 1. Muito mais fácil escolher as fotografias porque há muitas mais. 2. Ao vivo acabamos por surpreender pela positiva. 3. Este movimento não é favorável para os que vivem online e que jogam todas as suas cartadas no mundo digital, e que depois na vida real se transformam em ratos.
Nota idiota 3:
Não conheço ninguém que não faça uma cara diferente quando se olha ao espelho. É um momento estranho, mas com imensa graça. Porque fazemos uma cara diferente, meio matadora, meio expectante. A reparar na próxima vez que virem alguém a ver-se ao espelho!
Geralmente as pessoas gostam de se ouvir falar.
Não é por mal, mas gostam. Longos discursos, conversas dispersas e considerações genéricas são habituais. Por exemplo ter que ouvir o tio do amigo a falar das andorinhas do Tejo durante uma hora …
Mas ok, tudo bem, todos o fazemos. Mas porquê?
Por um lado somos criaturas vaidosas, mas por outro lado também faz parte de nós precisarmos de ser ouvidos, de alguém estar preocupado por onde anda a nossa vida e de saber o que nos assusta e entusiasma (mesmo que sejam as andorinhas do Tejo).
É engraçado reparar que falamos sempre para um alguém,mesmo que sejamos nós. O que temos a dizer é sempre numa dinâmica duma relação. A comunicação é feita a 2. Precisamos uns dos outros, e isso é fixe porque estamos ligados, e o nosso bem-estar está relacionado. E o facto de gostarmos de nos ouvir falar, tem muito a ver com esta necessidade de saber que alguém nos ouve, que as nossas palavras são relevantes e no limite, que temos valor.
Mas mastigando isto tudo, será que gostarmos de nos ouvir e de nos ver, significa que gostamos de nós? Não necessariamente.
Pode mostrar que somos vaidosos, que queremos muito provar alguma coisa… é interessante fazer perguntas daquelas difíceis:
1. Se gosto de me ouvir falar ou ver, porque será?
2. Preciso de provar alguma coisa a alguém para ter valor? Que sou inteligente, bonito, interessante, especial?
Temos realmente uma necessidade de sermos importantes e valiosos aos olhos dos outros. Mas partindo dessa necessidade, como a satisfazemos? À força de conseguirmos falar para impressionar os outros, ou de que outras formas?
Sem grandes respostas senão as que cada um der, deixamos aqui um aplauso sentido aos que falam para inspirar os outros, aos que dizem coisas simples e com valor. Aos que são desprendidos e têm fotografias ranhosas. Aos que não precisam constantemente de provar que têm valor, e que são o que são.
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