Todos os dias e a toda a hora acontecem todo o tipo de conflitos. Guerras, confrontos ou simples discussões tomam lugar entre desconhecidos e conhecidos. Entre amigos, colegas e casais.
Poderíamos idealizar um mundo sem conflitos, mas faríamos apenas isso: idealizar. Os conflitos – de maior ou menor escala – acontecem porque temos interesses diferentes. Eu quero isto assim, e tu queres de outra maneira. Esta divergência de interesses pode trazer stress, desconfiança ou ressentimento, mas também pode ajudar a ir ao fundo das coisas, a melhorar relações e aproximar pessoas.
Desta forma, o conflito em si não é uma coisa má, mas que pode ser bem ou mal usada.
Se repararmos só há conflitos onde há relações entre pessoas. Não vemos 2 objectos a discutir um com o outro. Olha a almofada a ter uma discussão com o sofá, que engraçado. Nem há conflitos entre pessoas e objectos: eu não tenho uma discussão com a minha televisão (apesar de cenas semelhantes terem lugar). Há sim conflitos entre pessoas.
Raramente um conflito nos deixa indiferentes porque mexe connosco e com a nossa autoestima. Sentimos que alguma parte de nós está a ser posta em causa, e isso é incómodo. Se não tiver a ver connosco, não há problema: ninguém se chateia tremendamente se alguém não gosta de um filme que gostámos. Mas se alguém não gosta de nós, aí temos chatice.
Ora bem, para compreender melhor os conflitos, podemos dramatizar dois tipos de pessoas:
1. Os que fogem do conflito
É extraordinário ver o que estas pessoas estão dispostas a fazer para evitar um conflito: fogem de cena quando sentem a tensão a subir ou pedem desculpa mesmo quando têm razão. Evitam o confronto a qualquer custo (mesmo a um custo superior ao do próprio conflito). Isto pode acontecer por uma mistura de motivações. Tanto pode ser por insegurança esta pessoa vai deixar de gostar de mim ou tenho medo que me ataquem; como por orgulho: tenho razão e nem estou para me explicar a esta pessoa, ela que perceba. De qualquer forma estas pessoas são altamente cuidadosas nos conflitos em que se envolvem, e têm uma esperança ingénua que alguns problemas se resolvam sozinhos.
2. Os que procuram o conflito
Pelo contrário, há pessoas que se alimentam de conflitos. São pessoas que retiram energia e motivação dos conflitos e que se agigantam perante um confronto. Pessoas que conseguem tirar algo positivo – um sentido de certeza, energia e satisfação – de um confronto. Daí haver casalinhos que adoram discutir e chefes que adoram gritar. É comum as pessoas que gostam de conflitos serem pessoas que gostam mais de falar do que ouvir. Estas pessoas metem-se na arena antes sequer de avaliar as consequências. Acham que nada se resolve se elas não entrarem em acção.
Mas na realidade nenhum destes dois tipos de pessoa é inteiramente eficaz a lidar com os conflitos. De facto, cada um dos tipos tem a aprender com o outro. Os que fogem do conflito têm que arranjar formas inteligentes de tirar gozo e motivação de um conflito, bem como perceber que por vezes é melhor pegar um toiro pelos cornos do que fugir dele (porque o toiro vai acabar por voltar ainda mais enfurecido). Pelo contrário, os que procuram o conflito a todo o custo têm que aprender a ser prudentes e cuidadosos, bem como a saber ouvir o outro lado e evitar confrontos desnecessários.
Apesar de tudo, há conflitos que por uma razão ou outra são insanáveis. Em que os interesses não são conciliáveis. E não há problema com isso, desde que as pessoas sejam sempre tratadas com cuidado e respeito. Contudo, a maior parte dos conflitos podem ser resolvidos eficazmente, se os diferentes interesses forem comunicados de forma clara. E para isso pode ajudar:
1. Criar empatia
Ser capaz de sentir o que o outro sente. Desenvolver para isso uma escuta activa, pôr-se no lugar do outro e escutar com cuidado quais os seus interesses e como os podemos servir.
2. Atacar ideias, não pessoas
É importante criar um espaço seguro onde as ideias possam ser brutalmente atacadas, mas nunca as pessoas. Assim, torna-se possível criar o hábito de criticar livremente as ideias, mas sem julgar as pessoas.
3. Ser assertivo
Em vez de comunicar de forma agressiva, atacando a outra pessoa, ou por outro lado, ser passivo, não comunicando nada, podemos escolher antes a assertividade. Dizer o que se tem a dizer com frontalidade mas também com elegância.
Tudo isto ajuda se soubermos mostrar o nosso ponto de vista sem atacar ninguém. É diferente dizer “és uma louca obsessiva que não me pára de me controlar” do que “percebo que queiras saber por onde ando querida… mas sinto-me pressionado quando me perguntas demasiadas vezes. O que podemos fazer para resolver isto?”
Naturalmente cada conflito resolve-se de forma diferente, porque cada relação é diferente. Resolver um conflito num namoro é diferente de resolver um conflito no trabalho. Mas temos uma hipótese maior de resolver bem cada conflito se reaprendermos a empatia, a capacidade de distinguir ideias de pessoas e a assertividade.
Desta forma o conflito deixa de ser uma ameaça a procurar ou a evitar a todo o custo, mas antes uma oportunidade de crescimento conjunto.
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