As vacas dão leite, as laranjas dão sumo de laranja. Estas 2 ideias parecem simples, mas não são. Aliás, um dos nossos grandes dramas é baralhar as duas.
O drama vai passando despercebido, até ao momento em que desejamos um sumo de laranja.
E o que seria razoável fazer quando queremos suminho? O razoável seria ir às laranjas. Mas não! O que fazemos é ir ter com a vaca e dizer: Passa para cá o suminho! Ao que ela responde: Muuuuh.
Não queremos dar parte fraca, mas ficamos cada vez mais irritados. É um desplante o raio da vaca não nos dar o suminho que queremos! E ela diz: Muuuh. Enquanto não tivermos o que queremos, não saímos dali, nem que a vaca tussa. E realmente a vaca não tosse, e responde apenas: Muuuuh.
E pronto, é este o nosso drama. Porquê? Porque é o que fazemos na vida: esperamos que algumas coisas nos dêem o que não conseguem dar.
Pomos uma expectativa desadequada nas coisas:
Que aquele trabalho me faça sentir feliz
Que aquela pessoa me preencha totalmente
Que o dinheiro me faça sentir seguro
Que os amigos me compreendam sempre
Que as vacas dêem sumo de laranja
Ora bem, não há mal nenhum em desejar sumo de laranja. O desejo é bom, o problema é esperar e exigir a satisfação desse desejo, em sítios que não o podem realizar. E ao entrar nessas exigências, acabamos por fazer 2 coisas tontas:
Em primeiro lugar chateamos-nos com a vaca. Refilamos com a vaca usando muitos argumentos: eu estava a contar com esse sumo, eu estou mesmo a precisar, toda a gente diz que é o que devias fazer… Mas a coitada da vaca …não tem culpa nenhuma. A natureza dela é dar leitinho, não foi feita para esguichar sumo pelas tetinhas.
Em segundo lugar, desperdiçamos o leitinho. Como estamos tão obcecados em ter o suminho que desejamos, passa-nos ao lado que a vaca está cheia de leitinho maravilhoso. Leitinho que é bom e faz crescer. Mas como não é o que esperávamos e não é o que nos apetece na altura, não aproveitamos nada.
Mas há outras maneiras de encarar a coisa. Podemos começar por aceitar que o nosso desejo nunca vai ser inteiramente saciado. Por muito leite, ou por muito sumo que bebamos, a sede que temos nunca vai ser inteiramente resolvida. Mas calma, não é preciso fazer dramas nem birras, podemos continuar a aproveitar o leitinho e suminho que vamos tendo.
Mas temos sem dúvida que aprender a calibrar expectativas do que devemos esperar de cada coisa. E já agora, podemos também aprender a viver mais agradecidos: se temos leite, maravilha, se temos sumo, excelente! Esta atitude, mais realista e mais agradecida, dá mais força do que litradas de suminho. No fundo, aquilo que desejamos nem sempre vem da maneira que gostaríamos, mas pode acabar por vir dos sítios que menos esperamos.
Reblogged this on A Idade do Céu and commented:
Grande lição de vida!
“E pronto, é este o nosso drama. Porquê? Porque é o que fazemos na vida: esperamos que algumas coisas nos dêem o que não conseguem dar. ”
Inspirem-se…
Republicou isso em Jornal da ESMFe comentado:
Uma lição de vida importante: “As vacas não são sumo. As vacas dão leite, as laranjas dão sumo de laranja.”
Isto é mais profundo do que pode, inicialmente, parecer…
Nem sempre recebemos o que queremos. Mas há-que aprender a dar o que podemos. Como diria alguém, saber ajustar as velas, já que o vento não mudamos.
É mesmo isso, Mariana! Obrigada! ;)
Eu gosto muito de laranjada e de vacas… mas gosto ainda mais deste texto! Está de rebentar a escala!!! Parabéns!
Resumindo, qualquer pessoa que pense que uma vaca vai dar sumo do que quer que seja deve consultar um psiquiatra o mais rápido possível…
Será tão linear assim ? :) Porque há vacas que se vestem de laranjas e laranjas que se pintam de vacas! Às vezes só o tempo nos mostra quem é quem afinal … Até nós nem sabemos muito bem, por vezes, o que define uma vaca e uma laranja (e é tão óbvio!). No meu ponto de vista (e sem querer desempregar psiquiatras), viver é a recomendação maior! :)
Ao ler os seus Post’s há sempre um “clique” que acontece, inesperado, também ele.
Adoro! Obrigada!
Adoro o artigo e percebo bem a sua sapiência…. mas que fazer quando o leite de vaca mais sabe a veneno ? :P
Trocas de Vaca
Para quando palestras do Inesperado nas Escolas? Já existe aqui muito sumo para ser “vendido” neste Blog!
Parabéns! Acabo sempre a concordar com o que escreves!
bela proposta! Quando li o título (mais uma vez) pensei que daqui não havia nada de especial mas é incrível identifiquei-me nisto! O inesperado pode sair da internet o tornar-se mais real :’)
É que ainda por cima, sumo de laranja e leite de vaca não combinam. Nunca vi um batido de laranja.
Por isso tento calibrar expectativas e preferir outros batidos e outros sumos naturais.
Exatamente: Ou leite ou sumo. Saber comer e defender a saúde do C. e da A.é muito importate.
Eu já bebi batido de laranja, frequinho é do melhor, mas ainda assim não há vacas que possam dar batidos…
Concordo plenamente! Essa perspetiva é uma forma de se ser bem-sucedido: realista, harmonioso e agradecido.
O inesperado para mim vem quando és uma laranja e o teu sumo é preterido … Quando até podes dar mais e só querem o teu menos.
Boa noite!
Sempre que vou ao meu e-mail e vejo que publicaste um novo texto, o meu ser é iluminado por uma satisfação desmedida! Quero dizer-te que desde que comecei a ler os teus textos, a minha atitude perante a vida sofreu uma alteração bastante positiva. Sinto-me infinitamente grata por isso.
Gosto da simplicidade com que encaras a vida e admiro a tua vitalidade. Além disso, as tuas palavras revelam uma profunda experiência. Continua a escrever, a espalhar a magia na vida das pessoas e a fazer-me feliz ao ler as tuas palavras.
Um grande beijinho!
P.S.: Este texto é fantástico. Nem por acaso! Hoje de manhã, apesar da preguiça matinal, preparei e bebi sumo de laranja!
Olá Catarina! Obrigado pela tua tua mensagem e pelo encorajamento. Que venha mais sumo de laranja :)
“No fundo, aquilo que desejamos nem sempre vem da maneira que gostaríamos, mas pode acabar por vir dos sítios que menos esperamos.” eis que a lógica que devíamos tentar usar para guiar a nossa vida social e religiosa.
Espetacular as always! Obrigado!