O nosso dia está cheio de distracções e actividades. Os nossos olhinhos dançam entre anúncios, neons e ecrãs, e a nossa vida vive meio refém de uma agenda sobrelotada com programas imprescindíveis. Procuramos dar resposta a uma chuva de possibilidades e corremos freneticamente para cumprir compromissos.
Queremos dar vazão a uma montanha de actividades, e pelo caminho garantir que todos ficam a gostar de nós. Acontece que isto é particularmente idiota: ao querer estar em todas as actividades percebemos que não estamos inteiros em nenhuma.
Estamos no jantar da prima a pensar na estreia do filme que vamos ver, no filme estamos a pensar na despedida de solteiro, e na despedida de solteiro a pensar… bem, na despedida não pensamos em grande coisa.
Ao querer ser tudo para toda a gente, acabamos por ser nada para ninguém.
A realidade é que não conseguimos corresponder a todos os pedidos e solicitações. O tempo não estica, tal como um cobertor não estica. Se puxarmos muito de um lado, ficamos com os pezinhos de fora, deixando sempre algum lado com mais frio. O que interessa é perceber qual o lado que importa manter quente.
Sendo assim, qual o nosso papel no meio de tantas ocupações e distracções?
O nosso papel é sermos matadores. Sim, o nosso papel é matar.
Matar tudo o que está a mais, sem qualquer piedade. Matar todas as actividades que não são essenciais, matar tudo o que ocupa tempo e espaço que não podemos ceder. Caso não o façamos, todas essas actividades e distracções vão invadir as poucas coisas essenciais da nossa vida que não podemos prescindir. Apenas matando o que está a mais é que conseguimos deixar viver as coisas que realmente importam.
Temos que ser irrepreensíveis na matança porque as distracções, os convites e as ninharias, nunca vão parar de chegar. E se não nos está a custar matar várias actividades interessantes, então é porque estamos a deixar ficar viva demasiada treta.
Para cada sim que damos, temos que dar 10 nãos. É difícil dizer um não, mas é a única forma de conseguir dizer um sim convincente. Não às horas perdidas a fazer coisas que não interessam a ninguém, não à energia gasta a tentar impressionar os outros, não ao tempo investido em coisas desnecessárias. Sim às ideias que valem a pena, às relações que interessam, ao trabalho que importa.
Teremos sempre a liberdade de escolher o que fazer com o nosso tempo, mas se queremos aproveitá-lo bem e investir no essencial, vamos ter que tomar uma decisão: ou matamos ou não matamos.
Podem tentar manter as aparências… mas por aqui preferimos a matança.
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