1. Distúrbio bipolar: forma de transtorno de humor caracterizado pela variação extrema do humor entre uma fase maníaca, hiperatividade física e mental, e uma fase de depressão, lentidão para conceber e realizar ideias, e tristeza. (Isto é o que nos ensinam os senhores que trabalham na cabine da wikipedia.)
Mas nós vamos rebentar com esses senhores, e tomar no nosso regaço uma definição mais leviana de bipolarismo: a capacidade de nos alegrarmos muito e de nos entristecermos muito. Tudo isto muito rapidamente. Ou seja, a capacidade de viver nos extremos, no mesmo dia, na mesma hora.
2. Às vezes passamos muito tempo a tentar estar no meio. Viver sem ondas, sem chatices, sem imprevistos. Viver serenamente num estado de limbo, sem tristezas que doem ou sem alegrias que exaltam. A verdade é que os que estão sempre no meio são uns chatos. Ou então uns resignados. Muitas vezes quem quer uma vida sem exaltações já está meio morto, mesmo sem o saber. Mas para quem vê de fora, é fácil reconhecer um cadáver.
3. Pois bem, parece que o que nos faz falta é um certo bipolarismo. Ou seja, falta-nos a capacidade de estar nos extremos, sem nos assustarmos demasiado com isso. É tão bom ver malta apaixonada. A discutir, a gritar, a fazer disparates. Bem melhor do que aqueles namorados mornos, com sorrisos complacentes e e atitudes moles.
Devíamos ser maníacos. Dançar e gritar de alegria. Ter ataques de riso, e rir dos que se riem de nós.
E também saber estar triste. Levar isso a sério. Até com fúria. É 100 vezes melhor ver alguém irritado com as coisas que doem no coração e no mundo, do que os indiferentes, já cheios de resignação mal maquilhada.
4. Isto revela uma certa saúde. Ainda que louca. É bom uma pessoa alegrar-se e entristecer-se genuinamente. Este bipolarismo saudável ajuda a ir libertando a pressão, e a gozar a vida a cada momento. Beber uma cerveja fresca com todo o gozo do mundo, e de seguida levar uma má notícia, com a devida tristeza.
Às vezes a malta quer aguentar ali na estabilidade e tranquilidade demasiado tempo, e depois acaba por acumular tanta pressão, que ao chegar aquele sms ou aquela boca, pumba liberta-se o monstro! Colega, isso era desnecessário. Bastava ires-te rindo – sem adiar a alegria que te é dada agora – ou chorando – fazendo luto do que perdeste – e estarias bem melhor.
5. Fait attention! este bipolarismo nada tem que ver com ser manipuladora, caprichosa e fazer cenas. Nem com malta sempre a mudar de opinião, sem nenhum compromisso de fundo com a vida. Trata-se de ter desportivismo e humor quando se está nos extremos, sem fazer grandes dramas. O bipolarismo não nos impede de tomar decisões consistentes de longo alcance, antes nos traz leveza na forma como encaramos este segundo (o que acabou de passar).
6. O bipolarismo funciona nos 2 sentidos. Às vezes assustamo-nos com a rapidez com que nos vamos a baixo com qualquer coisinha – tantas vezes coisas que nem percebemos de onde vêm – mas da mesma forma também podemos de repente ficar autenticamente alegres.
Do melhor podemos ir para o pior, mas do pior também podemos ir para o melhor. E isso é bom para não levarmos demasiado a sério nenhum dos momentos. They come and go.
7. Como dizia o Pablo Neruda: evitemos a morte em doses lentas. Evitemos ser mornos.
Libertemos antes a força bipolar que vive dentro de nós, para viver com coração todos os momentos que temos, sem dar demasiada importância a dramas.
A vida é uma aventura, e os mornos ficam de fora.
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