Desistir ou resistir?

Desde já convém dizer que quem escreve estas linhas é um notável praticante dos comportamentos descritos de seguida…

Ui que sono
Ui estou estoirada
Ui não me apetece nada
Ui isto já não dá pica
Ui afinal é uma seca

Estes pensamentos parecem pipocas a saltar. As nossas cabeças andam esgazeadas, estoiradas, moídas e os desafios que quisémos há uns tempos, já estão a cobrar a sua factura. Está a ser difícil e queremos largar os compromissos que assumimos. Metemos-nos em missões, projectos e ideias  – todos bestiais – mas depois falta-nos a força para os levarmos até ao fim.

O namoro começa a dar chatice, saltamos fora
A tese já pede umas olheiras e apagamos a luz
O excel pede mais umas células e já estamos a fechar o PC
O cliente pede mais uma coisa e assobiamos para o lado

Sim, sim, ao início era tudo brilhante e promissor. Agora damos por nós e estamos nas trincheiras.
Uma gritaria, confusão, tudo escuro e muita lama. Namoros, trabalhos, amizades, testes, ideias, todos acabam por sugerir em voz mansa: se calhar é melhor desistir…

Pois bem. Então qual o problema?
O problema é que deixa lastro.
Achamos que não, mas a malta à nossa volta, percebe que andamos a saltar de compromisso em compromisso. Percebe que não podemos ser levados a sério, porque não levamos as coisas até ao fim.
Olha lá vai aquela que muda de namorado a cada estação.
Olha lá vai aquele que muda de curso todos os anos.
Olha lá vai aquela que está no seu 14º estágio profissional
Deixamos um lastro de descrença à nossa volta.

Qual o problema?
O problema é que deixamos de acreditar em nós.
Estamos a deixar ruínas cá dentro. Coisas que ficaram a meio, que não levámos até ao fim. Ninguém lá fora sabe, mas nós –  por muito sonsos que sejamos connosco – sabemos o que  não cumprimos. Sabemos que não honramos a nossa palavra. Que estamos a deixar cair a toalha sem dar tudo por tudo.
Fazemos tantas promessas a nós mesmos –  vou correr 2 vezes por semana, vou cuidar do meu namorado, vou ser mais disponível para a minha família – que simplesmente não cumprimos. E por quebrar tantas vezes as nossas promessas, já nem acreditamos na nossa própria palavra. Duvidamos da nossa capacidade de levar uma coisa até ao fim.

Qual o problema?
O problema é que é um vício.
Voltamos à idade do triciclo. Todas as semanas queremos uma coisa nova. Mais gira, mais brilhante, mais gratificante. Com mais açúcar sff. Quando começa a não ter graça, damos um chuto no balde, e siga para a próxima Vanessa.
O que assumimos ao inicio como uma coisa que queíiamos apostar- um projecto social, uma tese, uma ideia, uma amizade, uma viagem – agora é rapidamente substituído por uma ideia nova, bem mais promissora. E ficamos infantilmente viciados em novidades.

Toda esta conversa não quer dizer que as circunstâncias, as prioridades e as pessoas mudem… Mas simplesmente acaba por acontecer que deixamos muitas vezes as coisas a meio, e raramente as levamos até ao fim.

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Porquê continuar a lutar?
É que quando as coisas parecem impossíveis, quando nada parece resultar, normalmente estamos a uns milímetros de fazer a coisa acontecer!
Uma curta diferença de atitude perante este desafio, pode fazer uma grande diferença no longo prazo. É como dar uma tacada de golfe, em que basta a diferença de uns milímetros agora mesmo ao acertar na bola, para a diferença ser de dezenas de metros lá à frente. Milímetros aqui dão dezenas de metros lá à frente.

Daqui a 5 anos, lembramos-nos das coisas que levámos até ao fim ou das que foram ficando pelo caminho?
Orgulhamo-nos das coisas em que metemos todo o coração e todo o esforço, ou das coisas que fomos desistindo?
É que não é de espantar que nos apeteça desistir. Há altura que temos o corpo e a cabeça moída de tanta pancada. De tanto insistir e nada correr como planeado. O desvario apetece sempre mais que a fidelidade.

Mas pode ser que aquilo que tanto queremos – e que tanto nos foge – esteja aí mesmo a aparecer em grande. Basta pôr mais uma hora, mais um dia, mais uma semana. Mais entrega, mais sangue, mais lágrimas.

A água ferve aos 100 graus. Aos 99 não passa nada. Basta mais um grau.
Esta ideia pode ser aquela que vai mudar esta macacada toda.

(E mesmo que não seja… estamos a tornar-nos em pessoas que nunca antes fomos.)


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Comments

Respostas de 5 a “Desistir ou resistir?”

  1. […] último artigo estivémos a conversar sobre resistir ou desistir dos compromissos que assumimos. E se é verdade que demasiadas vezes desistimos, e que perdemos […]

  2. Mariana

    E quão inteligente pode ser saltar fora quando está mesmo na hora? E não deixar prolongar as coisas demasiado, esticando a corda até àquele ponto em que é quase inevitável que não se quebre?
    Estou-me a lembrar duma grande amiga que arrastou um namoro por muito mais tempo do que devia. Acontece que ela esticou tanto o prazo da coisa que, às tantas, já nem se conseguia lembrar bem do motivo pelo qual se tinha metido naquilo. Se calhar, de início, às vezes também é bom fazer uma pequenina SWOT mental (ui) e perceber se vale a pena andar com a coisa para a frente. Bem, seja o que seja! Como diz o meu pai “na boca do saco é que está o atilho”.
    Li há pouco tempo, também, sobre a importância de dizer não às coisas para conseguir dizer sins verdadeiros! Aquela história das prioridades… E, para acabar, dizia o Dr Filipe de Botton na semana passada: “Só quem não tem nada para fazer é que não tem tempo.”
    Temos tempo para aquilo para que precisamos de ter tempo, ou não? E por isso devemos lembrar-nos sempre disso e seguir com as coisas. Com as que valem o nosso tempo, claro ;)

    1. Grande nível Mariana! As mesmas perguntas surgiam ao escrever este artigo, talvez mais para a frente dê para tocar nelas… e penso o mesmo, para o que é prioridade arranjamos tempo, e para o resto arranjamos desculpas :)

  3. Há uma história incrível de uma mulher que decidiu atravessar o Canal da Mancha a nado. Horas e horas de braçadas e a mulher já não aguentava mais. A certa altura – olhando para a frente e não vislumbrando terra – disse para si mesma: “chega; não consigo mais”. Quando entrou para o barco, alimentou-se, descansou e, entretanto o nevoeiro levantou. Foi então que viu que o outro lado da margem, afinal estava ali mesmo à sua frente! A visibilidade reduzida – a perspectiva que tinha sobre a sua situação – tinha-a enganado.

    Dá que pensar.
    Obrigado por espevitar o espírito!
    ABRAÇO!

    1. Great Story Delicado. Que venham mais…

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