Temos imensos conhecimentos. Sabemos nomes de pessoas, curiosidades, histórias e sítios.
Sabemos medir as coisas. Temos métricas, critérios e opiniões. Sabemos compreender as coisas. Fazemos análises, explicações e lógicas. Aprendemos a fazer muitas coisas diferentes, desde escrever um email a temperar uma salada.
Mas apesar de sabermos tanta coisa, por vezes não percebemos puto do que acontece connosco. Não percebemos uma dor de coração, não percebemos o que realmente nos faz felizes nem para onde estamos a ir.
Muitas coisas permanecem misteriosas apesar de ficarmos horas a olhar para elas.
E isto chega a ser violento porque é difícil aceitarmos que não percebemos nada. Temos a ambição de saber tudo, sobre tudo. Temos uma secreta vaidade de ter uma opinião sobre tudo. Uma certa arrogância ao ter certezas sobre as coisas. Gostamos de compreender porque é que os outros fazem aquelas coisas. E nós estas.
No meio deste terreno de dúvida e ausência de respostas, algumas ideias amigas podem trazer consolo:
Ir mais fundo.
É bom procurar muito. Ter muitas perguntas. Querer saber mais da nossa realidade e da dos outros.
Esta ausência de respostas, obriga-nos a ir ao fundo. Redescobrir quem somos, o que queremos, e em que direcção estamos a andar. Ter perguntas e não ter respostas obriga-nos a viver de forma mais empenhada e fundamentar bem os nossos gestos.
Estar mais atento.
A Simone Weil dizia que a atenção é a forma mais pura de generosidade. Não compreender algumas coisas ajuda-nos a estar atentos. A estar à espera, em silêncio com olhos muito abertos. Como um pescador que está atento ao mar. A olhar para a superfície, sabendo que há em movimento no interior que não vê nem compreende.
Suspender o julgamento.
Somos uns chefes tramados connosco próprios. Pomos prazos impossíveis para resolver certos assuntos. Pomos prazos de validade na nossa vocação, nas relações, nos trabalhos. (E todos os prazos estão a caducar.)
O resultado tem que estar em cima da secretária naquele dia.O problema tem que estar resolvido.
Devíamos antes aprender a suspender o julgamento sobre o significado de certas coisas. Devíamos ser menos precipitados na interpretação do significado das coisas.
No meio deste terreno em que tanta coisa fica por compreender, precisamos sobretudo de aprender a ser muito mais pacientes connosco próprios. Precisamos de confiar muito. Confiar que há o bigger picture da bigger picture e que o sentido das coisas leva tempo a ser compreendido.
Só compreenderemos com nova verdade a nossa vida se tivermos uma paciência que supera a impaciência. Se vivermos com uma esperança para além do que se podia esperar.
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