Tomar melhores decisões I

A tradicional introdução a um artigo deste tipo seria explicar brevemente do que vamos falar, e dar umas boas razões para a malta querer continuar a lê-lo. Podia-se explicar que todos fazemos escolhas – pequeninas ou grandiosas –  a cada hora de cada dia, e que tudo isso define muito do rumo das nossas vidas espectaculares. Para terminar essa introdução, poder-se-ia lançar os pontos concretos da reflexão, lembrando que podem contribuir para tomarmos melhores decisões e levar uma vida ainda mais espectacular. Seriam pontos como estes:

1. Escolher é dizer um sim, e muitos nãos.
Para se ser consistente numa decisão que tomámos – quer seja ir correr 3 vezes por semana, acabar a tese de mestrado,  avançar com um projecto original ou começar um namoro – é preciso saber dizer um sim determinado, e muitos nãos. E dizê-los de forma sistematica e deliberada. Escolher é cortar com tudo o que não interessa. Escolher é optar por uma coisa, sabendo que esse sim, tem mil nãos lá dentro.
Se fico a ver filmes no youtube, não estou a fazer desporto, a estudar ou trabalhar. Se fico em casa a ler um livro, digo que não a todos os programas que podiam acontecer fora com amigos. Se eu começo um namoro com uma rapariga, estou a dizer que não a todas as outras raparigas do mundo inteiro.

2. Não escolher já é uma decisão.
Por vezes achamos que podemos adiar decisões indefinidamente, quando na realidade não escolher já é uma escolha (de nada fazer).
É natural haver alturas em que fazemos bem em adiar uma escolha…seja porque não temos dados suficientes para decidir, ou o sono em dia, ou porque temos a mioleira fora do sítio. Não queremos também viver à bruta com o lema “parar é morrer” porque isso dá sempre para o torto… mas acaba por ser comum ignorarmos que tomamos muitas decisões importantes, simplesmente porque não as tomamos.
Se não decido escrever uma carta a responder a um amigo ela não vai magicamente acabar no correio dele, ou se acabo a universidade e não tomo nenhuma escolha acerca do que quero fazer e procurar, acabo por tomar uma decisão clara. Ficar com o rabo no sofá a ver séries.
Às vezes escolhemos muito, por não escolhermos.

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3. Escolher é criar um futuro novo.
A nossa forma de hoje estar no mundo tem a ver com todas as experiências que já tivémos, livros que lemos, pessoas que conhecemos, cocós que fizémos, e filmes que vimos (entre outras coisas mais ou menos agradáveis). Ao pensar numa decisão é inevitável pensarmos no que já vivemos.
Contudo, uma decisãonova – por muito insignificante que seja – abre sempre alguma coisa inédita, que não está amarrada ao passado. Temos sempre a possibilidade de fazer algo que nunca foi feito. Não interessa tanto o passado – o que fiz, o que falhei, o que não me deram, o que correu mal – mas sim o futuro.
Mesmo que nos tenhamos comportado sistematicamente de forma bizarra, hoje podemos começar de novo. Cada decisão é uma possibilidade de criar um futuro novo.

Pode acontecer que no final deste artigo haja quem pense que tudo isto é muito bonito, mas que na prática é complicado discernir o que é melhor, o que devemos ou não fazer, e por onde ir. Sim, tudo isso é verdade. Deixamos sempre a parte mais difícil para o leitor.

(Mas secretamente esperamos que o artigo Tomar melhores decisões II possa dar algumas ideias…)

Comments

Respostas de 9 a “Tomar melhores decisões I”
  1. Miguel Bandeira

    João, gosto muito do que dizes nos pontos 1 e 3, mas não concordo com o 2. Acho que não escolher não é bem uma decisão. É simplesmente um estado morno em que a pessoa não opta nem pelo sim nem pelo não, cujas consequências acabam por ser as mesmas do que se decidisses pelo sim ou pelo não.

    Recorrendo a um exemplo… Estou em casa e convidam-me para ir tomar um café. Não sou capaz de dizer sim ou não e acabo por ficar em casa. A razão por que fiquei em casa foi o facto de já lá estar quando me convidaram. Se estivesse com essas mesmas pessoas antes do tal convite para o café, provavelmente ter-me-ia deixado levar. Acaba por ser a mesma ideia que deste, mas vista de forma diferente.

    E já agora acrescento uma frase que o meu pai sempre me disse: Uma má decisão é sempre melhor que uma não-decisão!

    1. Ah grande Miguel! Percebo o teu ponto. Levado ao limite significava que sempre que não fizéssemos uma coisa diferente estávamos a decidir nada fazer, e isso pode ser abusivo.
      Mas pegando no teu exemplo, acho que ao ficar em casa, foi porque decidiste, e não por nada fazer. Só fazemos o que queremos!
      Mesmo que seja ficar na caminha :)

  2. Margarida Carmona

    João,

    Gostei muito deste post.
    Lembrei-me de um filme que vi há pouco tempo e do qual gostei muito, “A Proposta Indecente” (acho que já falámos sobre isto). Este filme tem muito a ver com escolhas, e nas suas consequências. Mas para além disto, tem muito a ver com a ideia de como seria a nossa vida se tivéssemos optado por outro caminho. Na verdade, uma escolha gera uma mudança (ainda que se opte por não escolher, nesse momento já estamos a escolher – ao nada escolher, como disseste). Concretamente neste mesmo filme, perante uma proposta (mais ou menos indecente), temos sempre uma escolha. Ainda que se recuse uma proposta, a realidade pode não voltar a ser a mesma, porque podemos pensar “E se tivesse escolhido da outra maneira?”
    Beijinhos!

    1. yo Margarida! Também já vi esse filme – porque alguém me recomendou vivamente – e dá muito que pensar… nos limites das decisões, nas tentações e por aí a fora!
      É bem!

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  3. Anónimo

    mto baril! gosto!

  4. Duarte

    Obrigado J.
    Palavras sábias e esclarecidas mais uma vez.

    Qd te leio é como se ouvisse a homilia de Domingo.
    Ou então não.

    1. Inês Abreu

      Muito Sartre-iano, gostei!

      1. Hi Lona!No, this is specifically for woersdrps.com. If you are hosting a blog yourself using woersdrps.org, then you are free to create and host your own forms and scripts, and don’t need this workaround.You definitely have more control over what you can post if you host yourself. Regarding rights, whether you use .com or .org, I suggest you put a copyright notice if you’re worried about that.Jennifer

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