Fazem falta coisas simples, directas ao ponto e funcionais.
Fazem falta produtos de fácil utilização e sites intuitivos, que não nos considerem aliens. Fazem falta electrodomésticos que não exijam ler um manual do tamanho de um romance de Dostoiévski, e serviços que não tenham políticas de privacidade com 50 páginas.
E não é só isto dos produtos e serviços. Também fazem falta pessoas simples. Sem grandes dramas ou complexidades. Que desmultiplicam a realidade densa em pensamentos claros. Fazem falta pessoas sem peneiras e directas ao ponto.
Bottomline: faz falta alguma simplicidade na nossa vida. De dentro e de fora.
Vamos ver algumas coisas que nos podem ajudar a fazer coisas mais simples, ou a ser pessoas mais simples:
1. Complicado é fácil.
Na realidade é mais fácil complicar. Simplesmente porque é mais natural. É mais natural ir acrescentado ideias a um projecto, argumentos a uma discussão, parágrafos a um texto. É fácil dizer sempre mais coisas, acrescentar informação, para ter a certeza que está lá tudo.
É tão natural enchermos as nossas conversas de palavras que não servem para nada. Isso é fácil. É tão natural enchermos a nossa vida de argumentos e justificações. Isso é fácil.
2.Simples é difícil.
Para se conseguir produzir alguma coisa simples – desde o texto de um email até um trabalho académico – dá muito trabalho. É muito mais difícil. Se queremos uma descrição de quem somos numa frase, temos que partir muita pedra para lá chegar.
Se queremos falar de forma clara e breve demoramos muito tempo. Há quem diga que demora 30 minutos a preparar um discurso de 5 minutos, e 5 minutos a preparar um discurso de 30.
A simplicidade não tem a ver com um minimalismo funcional ou estético. Isso é superficial. Simplicidade profunda exige conhecer a fundo o papel de cada elemento – cada pensamento, cada peça, cada frase. E isso é difícil.
3. Tornar simples é ser capaz de cortar.
Para se conseguir produzir alguma coisa simples, tem que se ter uma disciplina sem tréguas.Tem que se estar sempre disposto a cortar com o que não é essencial.
Ah mas este capítulo da tese deu imenso trabalho a preparar.
Ah mas eu quero explicar bem como me sinto.
Ah mas esta informação pode ser importante estar no email.
Ok. Mas o que é absolutamente essencial nisto? O que é que não posso prescindir por nada?
É necessário ter uma visão muito clara do que é essencial – o que quero dizer na tese de mestrado, o que quero transmitir com este projecto, o que quero falar a esta pessoa – para depois ser capaz de tirar tudo o que está a mais. Mas mesmo tudo. Só com essa consciência afinada do que é essencial, é que percebemos o que podemos deixar de lado e o que não podemos prescindir. (aqui entre nós, raramente nos livramos de tudo o que não precisamos…)
Para simplificar uma frase, um projecto, uma relação, não se pode ignorar a complexidade. Tem que se conquistar tão fundo essa complexidade e ser capaz de transformá-la em simplicidade.
Como disse o Saint-Exupery “A perfeição é atingida não quando não há mais nada a acrescentar, mas quando não há mais nada a tirar.”
4.O simples é sexy.
Um iPhone é mais sexy que um Nokia. A simplicidade acaba por ultrapassar apenas o conceito funcional. Entra no território da beleza.
Uma coisa que era complexa e que agora se apresenta com profunda simplicidade tem uma beleza muito forte. Um artigo bem escrito, um objecto puro, uma frase certeira, um pensamento claro.
Faz-nos falta simplicidade nas nossas vidas. Libertar-nos de tudo o que está a mais, das palavras extra, das frases complicadas, das funcionalidades que não ajudam. Devemos ser capazes de com menos, ser mais e fazer mais. Transformar menos em mais. Como dizia o arquitecto Mies Van der Rohe: Less is More.
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