Ele estava em pé, à espera de ser atendido.
Odeio esperar. E hoje deixei o telemóvel em casa por isso nem me posso entreter.
Tanta coisa para fazer e eu aqui parado. Raça de coisa.
Mas também quem é que diz “raça de coisa”? És um bocado ridiculo.
E riu-se. Estas conversas interiores eram cada vez mais comuns. Saíam-lhe sem querer algumas gargalhadas só por se aperceber dos pensamentos ridículos que tinha. E isso fazia-o sentir-se bem. Mesmo quando alguém olhava para ele com ar assustado. Aliás isso até o fazia rir mais, porque sempre gostou de momentos estranhos. Awkward como diziam alguns.
Como no outro dia quando ia a falar a um conhecido na rua, e não sabia se parava ou se continuava a andar,e ficou num misto de falar ola-tudo-bem-como-estas-por-aqui? enquanto o cumprimentava, mas continuando a andar. O outro muito formal a querer falar já virado de frente. Mas agora já não se podia virar para falar com ele porque já estava muito afastado. Seria ainda pior voltar atrás. Ficou só a rir-se sem responder grande coisa e o outro ficou meio agarrado, meio nervoso, a querer falar. O melhor mesmo, foi quando o outro desistiu de falar e virou-se de repente para chocar com um homem enorme todo tatuado. Mais risos nervosos a olhar para o chão. Delicioso e constrangedor.
Mas cá estão estas conversas interiores. O problema mesmo é que continuo à espera. Também pareces um puto amuado. Que raça de coisa – sim, que raça de coisa – já que aqui estou, vou tentar perceber porque estou tão impaciente. É verdade: tenho muitas coisas para tratar. Tenho que comprar comida para casa, despachar aqueles emails, ir cortar o cabelo e ainda dar um beijinho à Luisa que faz anos. E sim, ainda queria ler mais um capítulo do livro e limpar o quarto.
Mas não é só hoje que estou impaciente. Normalmente não gosto nada de esperar. Não gosto mesmo. As coisas levam todas tempo e é sempre preciso esperar. Mas por acaso tem havido umas coisas boas quando espero. Foi bom esperar e juntar dinheiro para aquela viagem. Deu-me imenso gozo depois ir lá. O projecto de ajudar os miúdos no campo de férias demorou muito mas foi um espectáculo. A planta lá em casa demorou anos a crescer mas agora está mesmo bonita. E gosto do trabalho que tenho agora, mas tive que procurar e esperar uns anos até encontrar um sítio assim.
A verdade é que tenho tido que esperar por todas as coisas grandes na vida – desde me tornar melhor pessoa até ser capaz de lançar um projecto meu – mas até tem sido bom esperar. E conhecendo-me… com o meu feitio…ahaha…sei que rapidamente me tornaria insuportável se tivesse logo tudo o que queria. Na realidade eu até gosto quando sou paciente e espero… porque me sinto mais livre e desprendido de resultados. E também muito mais confiante que as coisas correrão como têm que correr, ,mas não necessariamente como queria que corressem. Sim…Esperar tem sido bom…
Que som é este? Oh, é a minha vez de ser atendido! Chega de pensamentos idiotas que estou farto de tar à espera…
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