Demasiado a sério

Há sempre alguma revista a tender para o rosa, em que um personagem com cerca de 40 anos é entrevistado, e a quem lhe é perguntado qual o segredo para o sucesso da sua vida, e a resposta habitual é: “não me levo demasiado a sério”.
E apesar das poses com ar casual nalguma mansão ou de encontro a uma parede preta, talvez tenham razão, porque somos realmente ridiculos.

Uma pessoa não se levar demasiado a sério é bom.
E para quem está em dúvida se se leva demasiado a sério, basta fazer este curto teste e ver se habitualmente se ri quando:

  • Põe meias desirmanadas.
  • Faz uma máquina de loiça, com loiça já lavada.
  • Acha que está a ver um jogo em directo, mas é uma gravação.
  • Não consegue adormecer, quando só tem 6 horas para dormir.
  • Arranja um lugar espectacular para o carro, para depois perceber que é proibido.
  • Vai para uma fila mais vazia nas finanças, para perceber passados 40 minutos, que é a fila errada.
  • Chora ao ver comédias românticas.
  • Dança ao espelho e é apanhada.
  • Apercebe que vai ao Facebook à espera que a sua vida tenha mudado.
  • Diz uma coisa com toda a certeza, e rapidamente apercebe-se que está enganada.
  • Percebe que está a fazer um ar sedutor ao ver-se ao espelho.

(Mais de 7 respostas positivas é fixe).

Não se levar demasiado a sério, é saber brincar com a vida. É ter gozo e alegria. Mesmo nas coisas grandes e assustadoras.
É que uma postura leve e com humor, faz bem. Traz um ângulo luminoso ao dia a dia. Quem não se sabe rir de si, não se devia poder rir dos outros.
Já não há muita paciência para aquelas pessoas que se levam muito a sério, com muita insistência no que dizem, com gravatas pesadas, e muito solenes na seriedade das suas frases. Os chatos que se descalcem e bebam uma mini.
Às vezes esquecemos que aquelas pessoas sérias que nos indimidam, também fazem cocó. A sério, fazem. Os chatos também  ficam aflitos para ir à casa de banho, acordam despenteados e têm remelas (a própria palavra “remelas” também é ridícula quando é escrita).

É tão bom uma pessoa dar por si a rir-se sozinha e a pensar:” que personagem, que ridiculo”. E é preocupante passar muito tempo sem esses risos connosco mesmos. Pena os chatos não se rirem, porque ficam ainda mais ridiculos assim. Na realidade, só os ridículos podem ser levados a sério.

Mas uma pessoa  ser capaz de não se levar demasiado a sério, é coisa séria.
Não é para meninos. É para gente humilde e pura. Gente que se ri das suas ânsias exageradas em controlar a vida. Gente que  ri e aproveita os momentos como são, mesmo sendo diferentes do que queríamos.
Claro que há coisas mesmo sérias na nossa vida. Especialmente as que mexem com o nosso coração e com o coração dos outros. Doenças, fracassos, desemprego. Mas mesmo nos casos extremos, um olhar que percebe que somos risíveis e pequeninos – em todos os nossos planos e ambições –  cria o espaço para esses extremos se tornarem uma oportunidade de crescimento e inspiração para os outros.

Vamos então rir do ridículo que somos. Vamos rir-nos mais de nós próprios. Vamos brincar mais.
E já agora, lembrando o que se diz por aí: quem se sabe rir de si mesmo, tem divertimento garantido para o resto da vida.

Comments

Respostas de 10 a “Demasiado a sério”
  1. Filipa Félix Machado

    A rir bem alto porque nunca acertei tantas respostas num teste!
    A rir bem alto porque ter melhor nota num teste de personalidade em vez dos testes académicos é uma questão séria mas sinal de que eu não me levo demasiado a sério e isso é fixe!
    A rir bem alto porque estou à demasiado tempo a tentar escrever uma resposta engraçada ao teu post e só saiu “cocó” (para citar o autor)!

    Agora o que realmente te diz respeito…óptima análise de mais uma situação trágico-cómica da vida humana. É mesmo melhor crescer a rir!

    1. Ou como diria um humorista: “eu rio para não chorar”. Ahah

  2. Chica Sampayo

    Obrigada João!!! Eu passei no Teste!!!
    AHAHA!

  3. Hahaha. Muito bom! Gostei particularmente do item quando se “apercebe que vai ao Facebook à espera que a sua vida tenha mudado”! :)))

    A tua reflexão fez-me lembrar algo que aprendi no noviciado: à conta daquele ambiente de rapaziada a viver no mesmo espaço 24h/dia, descobri um modo infalível de atingir o ego de qualquer pessoa que se leve minimamente a sério, ou seja, toda a gente. Numa situação daquelas de disputa-tensão-quezília-irritação-“ai é?!” com alguém, quando aquilo chega a vias de uma agressão light do género despejar uma garrafa de água cabeça abaixo, ou qualquer coisa um pouco mais bruta como atirar um piano para cima de ti, basta dizer com o ar mais desafiador: “NÃO ÉS CAPAZ”. E se for rapaz, para atingir o ego mesmo no centro nevrálgico: “NÃO ÉS HOMEM NÃO ÉS NADA”… ui. Dá resultados estupendos!!! Hahaha.

    ABRAÇO!

    PS – Esta frase do “às vezes esquecemos que aquelas pessoas sérias que nos intimidam, também fazem cocó” é de uma enorme sabedoria! Todos somos pó, graças a Deus.

    1. Uma inspiração a tua abordagem ao Facebook :) Ajudou a que saissem frases assim…

      Quanto ao factor competição, subscrevo absolutamente. Não há homem que vergue num “não és capaz”. Tão fácil, e tão eficaz. Ah ah
      E agora alguém importante está a fazer cocó.

  4. Zé Maria

    Bravíssimo João! Subscrevo na integra. Até arriscaria dizer que sabermos rir de nós próprios é mesmo um passo importante na auto-disciplina, que nos permite olhar o mundo com esperança. (na verdade não estou a arriscar nada…)
    De facto, sem admitir que sou rídiculo, não vou dar espaço para que os outros sejam rídiculos e estarei a julgar desmesuradamente e erradamente tudo o que se mexer à minha volta.
    Ou estarei só a ser desmesuradamente ridículo? (não é pergunta retórica)

    1. Talvez a ultima pergunta seja bastante acertada. Ahaha. Keep in touch :)

  5. João, mais uma para o teu teste. Não se leva a sério quem se ri quando:
    – Arranja um lugar espectacular para o carro; comenta com os dois amigos que também lá iam que era curioso ninguém ter estacionado ali, estando o resto do parque cheio; goza com o amigo que ia no banco da frente a dizer que se fosse ele não conseguia estacionar ali; e depois, enquanto faz marcha-atrás, bate numa trave que lhe arranca um pedaço de pára-choques.

    Ahah, agora rio-me mas na altura chumbei completamente no teste. Quem se riu foi o meu colega com quem tinha gozado :)
    Ótimo post!

    1. Ah ah ah. Ou então parar o carro num grande lugar. Para passados 20 minutos vir a descobrir que já foi multado. Touche.

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