No outro dia estava frio. E por baixo do casaco e da camisola, tinha vestido um polo da Lacoste.
Dei por mim a pensar: “Olha que raio, uma marca com tanto prestígio, e eu nem a mostro?”
Ainda pensei em tirar as camadas de cima, para ficar com o pequeno crocodilo à mostra, espalhando sorrisos para os lados, mas preferi não apanhar a pneumónica.
Isto fez-me lembrar aquela anedota:
Estava a selva com demasiados animais e o rei da selva – o leão – decidiu que tinham que matar alguns. (gosto deste preâmbulo, como se esta situação fosse uma coisa razoável).
O rei da selva convocou todos os animais e disse que como eram muitos, teve que arranjar um critério para eliminar uma espécie de animal, e escolheu que teria de morrer o animal com a boca maior.
De seguida ouve-se o hipopótamo a fazer beicinho e boca pequenina e a dizer: coitadinho do cocodilo…
Pois bem, nós acabamos por ser este hipopótamo. Um bocado risível e a escapar-se da sua responsabilidade. Porque usamos roupa de marca? Para mostrar ou porque nos sentimos bem?
Sem dúvida que o crocodilo é confortável, e de boa qualidade. Mas é igualmente caro.
O que me leva a pensar quanto estou disposto a pagar por certas coisas? E geralmente a resposta é: pouco.
Mas depois é engraçado ver como em alguns casos entra ali num lado emocional, “eu preciso desta camisola e também destas calças . AGORA”.E aqui tiro o chapéu (ou o polo), ao trabalho que algumas marcas fazem. Marcas que conseguem vender uma garrafa de água a 20 euros ou um relógio a 30mil euros. Trabalham incansavelmente a percepção que nos tornaremos melhores ou mais bonitos se comprarmos aquela marca específica. Se uma marca de papel higiénico consegue ser sexy tudo é possível. (Já agora, não esquecer para que serve o papel higiénico, e onde acaba).
Precisamos mesmo tanto das últimas botas da Timberland, ou das novas calças da Levis?
(A sensação que tenho é que a maioria das mulheres já largou o artigo a meio. É desconfortável bem sei. Homens, continuemos.)
Atenção! Acho que há coisas boas que valem apena. Há casacos e sapatos que duram uma vida. Há investimentos que valem a pena. Mas custa-me a ideia de desperdiçar dinheiro, especialmente numas calças que temos absolutamente que comprar agora, para usá-las daqui a 8 meses, numa festa (de máscaras).
Tendo 5 euros ou 100 euros no bolso para gastar em roupa há perguntas que ajudam:
Quantas vezes conto usar nos próximos 2 meses esta roupa?
Sendo muito sincero comigo, isto é assim tão essencial para mim?
Tenho realmente dinheiro para gastar nisto, ou já me sinto fora de pé?
Que venham antes os polos nikie e tudo o mais. O cavalo da Ralph Lauren duplicado e com ar atrofiado e tantos outros bonitões. E que venham também as marcas com igual dose de consciência do que podemos gastar e do que valorizamos cada coisa.
Estes são tempos que exigem de nós criatividade. É bom ver pessoas com pinta. Especialmente uma pinta low cost. Afinal é mais sexy encontrar uma boa oportunidade e ter imenso gozo nela, do que esbanjar dinheiro em necessidades que não são reais.
Nota ao leitor:
O polo referido da Lacoste foi comprado em 2ª mão e por 5 euros. Uso-o naturalmente com o dobro do orgulho. Já está meio esfarelado. Afinal, coitadinho do crocodilo.
Comenta aqui