Estamos sempre em guerra.
E é bom que assim seja.
Há sempre alguma coisa em nós que não nos deixa em paz. Alguma coisa com que lutamos, alguma coisa que não temos e que queremos conquistar.
À medida que vamos crescendo as nossas batalhas vão mudando. Desde conquistar protecção, aprovação social, segurança, etc… mas quando entramos na arena do trabalho, onde passamos décadas da nossa vida, a luta é pelo poder.
O poder é a capacidade de determinar o destino de uma coisa. Quer essa coisa seja pequena ou grande. É determinar que livros vão sair da estante, ou que pessoas vão sair da empresa. O poder envolve coisas a que dificilmente somos indiferentes. Reconhecimento, autoridade, estatuto, influência, respeito.
Até que ponto podemos lutar pelo poder? Até que ponto é uma luta saudável ou uma luta doentia?
Há 2 extremos que convém evitar para se conseguir travar uma guerra saudável pelo poder:
Extremo 1: fugir do poder
Às vezes fugimos do poder como se achássemos que é uma coisa má, ou como se só fosse possível ser verdadeiramente livre se não tivéssemos qualquer tipo de responsabilidades. Chegamos até a achar que essa radicalidade é uma espécie de heroísmo, mas na maior parte das vezes é apenas uma infantilidade.
É necessária mais força de vontade para conviver sistematicamente com esse desejo de poder, do que querer viver uma vida sem a tentação do poder. Precisamos de aprender a conviver com o desejo que temos, não como uma coisa má da qual devemos fugir, mas como uma coisa que pode ser usada ao serviço do que mais valorizamos.
Extremo 2: desejar apenas o poder
Há muitas pessoas que vivem verdadeiramente enamoradas pelo poder. E o que é que faz um apaixonado?
Um apaixonado só pensa na sua amada. Não descansa enquanto não está com ela. Faz o que for preciso para se aproximar dela. Fica ciúmento se existe mais alguém a desejá-la. O problema é que quem permanece sempre na paixão acaba por ignorar coisas também importantes, simplesmente porque está vidrado no seu objectivo. Os apaixonados vivem com um medo sempre crescente de perder o poder que já conquistaram. E secretamente – na sua paixão infinita – querem sempre mais poder (que nunca será saciado). Os apaixonados precisam de educar o seu desejo para o serviço aos outros, em vez de pensarem apenas em si.
A luta tem que ser travada com uma consciência cada vez mais afinada sobre as nossas motivações. Qual o fim para que queremos o poder?
Para podermos exercer influência nos outros? Para ganhar reconhecimento e admiração? Para melhorar o nosso estatuto, a nossa carreira, a nossa vida? Ou para usá-lo ao serviço dos outros?
Mas interessa não só o fim para que se luta, mas também os meios que se usam.
Há preços a pagar que são demasiado elevados. E não estamos apenas a falar de horas excessivas de trabalho e de enormes sacrifícios familiares e pessoais, estamos a falar de coisas que não se podem comprometer, independentemente da luta em que se está. O respeito pelos outros, a verdade e a honestidade não podem ser dobrados em função dos nossos interesses, por mais nobres que sejam.
Talvez o poder mexa tanto connosco porque gostamos muito da ideia de nos auto determinarmos. De termos controlo da nossa vida. E quando vemos que não conseguimos determinar tudo na nossa vida, é bom ter algumas coisas que estão sobre o nosso controlo, que são feitas à nossa maneira. Há de facto pessoas que querem ter muito poder, simplesmente porque não sentem poder nenhum nas suas vidas.
Como nos sentiríamos se perdêssemos toda a nossa influência, toda a nossa autoridade, todo o nosso respeito?
O que restaria? O que ficaria no fim de tudo isso? Continuaríamos a gostar de nós próprios se perdêssemos todo o poder que temos?
As perguntas estão lançadas. As respostas vêm na luta.
Que comece a guerra.
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