Há dias em que tudo muda. Dias em que a vida foge-nos completamente das mãos.
Levaste uma tampa.
Ou foste despedido.
Ou morreu a tua avó.
Ou chumbaste no exame de especialidade.
Ou levaste uma desanda do teu chefe.
Ou descobriste que tens uma doença.
Ou o teu negócio está insolvente.
Não, não é como os trailers de cinema com aquela voz profunda e poderosa: “One guy. And the day that changed his life forever”. Não, não é nada com essa voz. E não, não é nada cool.
Parece que fomos ao tapete, como se tivéssemos sido aviados por um Mohamed Ali furioso.
É mesmo daqueles dias para esquecer. Mas que não dá para esquecer.
É daqueles dias em que nem nos olhamos ao espelho. Porque os olhos preferem olhar para o chão.
E a forma de lidar com esses dias é habitual: reacções apressadas, frases como “eu não merecia nada disto” ou “porquê a mim?”.
O coração que se sente magoado quer rapidamente encontrar na cabeça explicações, mas nenhuma é convincente.
Os pensamentos percorrem aflitos todos os sentidos, e nenhum deles faz sentido.
O coração bate muito, e não deixa de doer.
Pensamos no calor da nossa dor: “Espero que rapidamente as coisas voltem a ser como eram“. E é aqui mesmo que nos enganamos de 2 maneiras:
1. RAPIDAMENTE?!
Há dias que levam meses a digerir. Nem tudo é digerido à velocidade de um Big Mac.
E isso complica-nos a vida: porque estamos habituados a viver ao ritmo de um clic. Mas a vida não se compadece com os nossos ritmos externos. Não dá para fazer log out do nosso chefe. Não dá para apagar o histórico das nossas amizades. Não há uma app que nos resolva os problemas do coração, nem há um tablet que traga quem gostamos de volta.
Se queremos rapidamente, vai correr mal. In real life, it takes time baby.
2. VOLTEM a ser como eram?!
Não vamos “voltar” a coisa alguma. Tudo mudou. Ponto.
Não vamos voltar a ser assim, a estar com aquela pessoa, a fazer aquilo.Temos dados novos que não tínhamos ontem. Não podemos viver o dia de hoje como vivemos o de ontem. Somos outros. Somos pessoas necessariamente diferentes depois de uma experiência tão forte. Sem dramatismos, mas a nossa vida mudou para sempre.
E por isso, dado que não há regressos ao passado nem velocidades aceleradas, vamos ter que aprender a lidar com esses dias de forma diferente.
Quando vier o próximo dia assim, vamos precisar de tempo. Vamos precisar de nos conceder a paciência e a humildade para digerirmos uma coisa tão grande. Leva tempo. Não vamos apressar. Shhh, respira fundo. E aguenta!
Quando vier o próximo dia assim, vamos aceitar que as coisas não são como antes. Que a vida diminui quando a tentamos encaixar no que “devia ser” . E que cresce quando aceitamos as suas mudanças. Não estar sempre a querer voltar ao passado, vai-nos libertar para desfrutar o presente.
Quando vier o próximo dia assim, cá estaremos para mudar com ele.
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