Hoje em dia, precisamos muito de almofadas. Mas daquelas almofadas fofas. As que nos aquecem e que nos dão um enorme conforto ao encostar a cabeça. Os mais perspicazes já estão a ver para onde isto vai. Os outros, acham que a qualquer momento começarão a aperecer pop ups intrusivos a recomendar colchões picolin e almofadas moles.
Enquanto ainda não rebenta publicidade neste jardim da blogosfera, vamos falar disso mesmo. Vamos falar de como todos os jardins da nossa vida rapidamente são invadidos, algo indelicadamente, por novas mensagens, chamadas de atenção e solicitações. Referimo-nos portanto ao mar de coisas barulhentas e indiscretas que povoam a nossa vida: sms, mupis, notificações, emails, anúncios, flyers, imagens, vídeos….
É frequente estarmos numa reunião de trabalho e o tlm tocar – mesmo silenciosamente – com uma nova mensagem, ou um email que chegou. E logo dispara o pensamento: “O que será? Será que é importante? Será que é aquele assunto que não posso adiar?”.
E entretanto acabamos mesmo por adiar a reunião que estava a acontecer. Não literalmente, mas no sentido em que se tornou secundária, porque algo nos roubou a concentração e presença.
O mesmo se passa num trabalho de grupo na faculdade, a conversar com um amigo, a ver um filme no cinema, ou simplesmente a passear na rua. Ao responder ao que apareceu, ficamos divididos. Em 2 sitios ao mesmo tempo. E não inteiros num só.
É que estamos sistematicamente a ser tocados por 100 pedidos. E toca a nós, escolher a qual vamos responder.
Não interessa tanto discutir como chegámos a isto, mas o que fazer com isto. Hoje em dia, temos 100 canais de comunicação abertos. Full time and low cost. Há sem dúvida um lado muito positivo: se temos algo a dizer rapidamente podemos saltar para o mundo, através do mail, facebook, sms, blogues, vídeos…
Mas este excesso de possibilidades pode privar-nos também de liberdade.
Por isso mesmo temos que ser absolutamente intencionais na forma como gerimos o nosso tempo. Não o fazer significa ser mil vezes interrompido por sms , perguntas, emails e notificações. Não basta dizer : “ah, gostava de não ter 1000 coisas para tratar, e de não me distrairem”. Não ser intencional neste esforço significa perder a liberdade.
A intenção não basta. E porque não basta, – e agora sim chegamos ao ponto – precisamos de almofadas.
Almofadas fofas que absorvam as distracções que nos tiram do que devemos fazer. Que nos protejam das distracções sistemáticas. Uma almofada é um aviso na porta do quarto a dizer: “não interromper”. Ou tirar as notificações do Facebook. Ou desligar o tlm em certos momentos. Ou pedir no escritório que na próxima meia hora não interrompam. Ou por phones para não nos distrairmos com as conversas do lado.Temos que nos saber proteger de todas estas distracções, porque senão fica por viver a única coisa que nos era dada: o presente.
O que será feito de nós se vivermos apenas em constante reacção aos mil pedidos que nos chegam?
Com certeza, que é bom termos canais de acesso a nós disponiveis. Há urgências, e assuntos que têm que ser tratados na hora. Por exemplo, ao receber este SMS: “Ah preciso da tua ajuda agora, um carro passou-me por cima”, convém ser rápido. Contudo, falhamos muito mais por dispersão. E aí a intenção não basta, e as almofadas ajudam mesmo.
Se tenho que preparar a reunião, então é isso que vou fazer. Não vai ser responder a este sms, ou ao tlm que está a tocar. Estou a conversar com um amigo, então não vou estar a mandar sms ao mesmo tempo. Estou a estudar para um exame, então não vou ver as mensagens do Facebook. Se estou a escrever um email, não vou ver os 20 que ainda me faltam ler.
Chega de trabalhos adiados, conversas interrompidas, reuniões dispersas, respostas à toa, e aquela urgência dividida. Que venham as almofadas. E que venha cada momento, inteiro e redondo, porque às fatias não presta. Não vamos adiar esta vida em distracções. E não nos vamos ficar pelas intenções. Porque elas não bastam.
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