É tão frequente estarmos numa festa, e começarmos a ouvir alguém que está no centro das atenções – talvez já com a cara ligeiramente ruborizada – num crescendo de histórias cada vez mais elaboradas:
Narração: “Eh pá, e eu disse mesmo ao polícia que ou me deixava ir embora ou eu registava o nome dele e ele não se ia esquecer daquele dia…” |Realidade : “Oh sr. Agente, tem toda a razão, não volta a acontecer. Obrigadíssimo…”
Narração: “E vieram os gajos para me bater, eu mandei logo um ao chão, mandei duas peras na cara dos outros dois, e o quarto fugiu… fiquei com as mãos assim…” |Realidade: Comecei a fugir em pânico e caí no caminho. (daí as mãos arranhadas)
Nota: O exagero é um fenómeno essencialmente grupal. Acontece frequentemente em locais de grande concentração de individuos do sexo masculino, quando munidos de pequenas garrafas de cerveja. Este fenómeno também se repete com individuos do sexo feminino e em locais festivos.
Outra coisa que faz sempre rir por dentro é quando passámos por uma situação com alguém, e depois a ouvimos a contar essa história de uma forma totalmente exagerada. Temos 3 hipóteses: A- “Ó Miguel, estás a exagerar, não foi nada assim, eu estava lá, e tu não bebeste 25 minis, foram duas.” B- “ahaha, eu estava lá, e depois até…” (ou seja, construir no exagero do outro e elevar ainda mais alto a loucura da narração). C- Silencio e muito riso interior “este miúdo é um exagerado”
Outra coisa gira é que mesmo para pessoas mais objectivas há um momento, em que entra ali uma veia emocional, e abre-se a porta para o exagero. “É porque foi mesmo a melhor onda de sempre…” ou ” Estou na fossa, ele olhou para outra mulher na festa…”. O que é interessante é o facto de ser muito comum exagerarmos. Porque será assim?
E aqui, voltamos a entrar nas nossas dinâmicas interiores. A questão interessante é se tenho consciência que estou a exagerar e com que objectivo:
- Será que é apenas para entreter as pessoas e passarmos um bom bocado?
- Será porque preciso de aprovação e admiração dos outros e exagero as minhas qualidades?
- Sou livre o suficiente para gostar da realidade sem a exagerar?
Recomendações finais:
1. O exagero deve ser utilizado com moderação. Sendo conotado como o “exagerado” torna-se dificil ser credivel, sem ouvir as bocas: “Ó Pedro, mais uma peta! ahaha, traz-me mais uma mini!” … “Não a sério, passei no exame da ordem!!!” … “ahaha, nem estudaste direito!” … ” mas… mas…” e depois o Pedro transforma-se num rato, em vez de ser um advogado cheio de prestígio.
2. Não utilizar o exagero idiota, que é aquele que não percebe os limites do razoável: “No outro dia tive à conversa com a Angelina Jolie e estava a aconselhá-la a deixar a carreira de realizadora…”. “Mas tu nem a conheces”. “Eh pá, mas vi-a ao longe.”
3. Evitar verdades absolutas: “O teu primo é IGUAL a ti!”. “Mas ele usa óculos e tem dentes amarelos”. “Eh pá, é IGUAL.”. Ou então: “é mesmo o melhor bolo de chocolate do mundo.”, ou ainda “A Maria está sempre sempre no Facebook…”
4. Não entrar no tipo de exagero que entra nos territórios da chamada “distorção da realidade”, vulgo “mentira”.
Por fim, tal como não há um jornalismo “imparcial” ou “neutro“, também um juízo não é evitável numa situação. Ou seja, as histórias que contamos são personalizadas, o que é fixe. A questão é se temos consciência que estamos a exagerar, com que objectivo o fazemos e se somos capazes de o fazer com liberdade ?
(Será que é assim, ou será isto um exagero?)
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