O maior desperdício da vida

Sabem aquela sensação desoladora de deitar fora comida? Quer seja porque estava estragada ou porque calculámos mal as quantidades… Ninguém gosta da sensação de desperdiçar comida.

Combater o desperdício alimentar faz todo o sentido quer por razões práticas quer por razões morais. Do ponto de vista prático, é estúpido gastar comida que não é usada. A comida custa a produzir e envolve muito trabalho e dinheiro até chegar ao nosso prato. Deitar isso fora é tonto.

Apesar de no dia a dia deitar comida fora parecer irrelevante, do ponto de vista moral é terrível saber que faz muita falta a quem não a tem.

Felizmente há empenho nesse combate: desde associações que se dedicam a reduzir o desperdício em restaurantes e supermercados. Também em nossas casas a nossa consciência (e carteira) vão-nos lembrando para calcular melhor as refeições e a comida que realmente precisamos.

Curiosamente há outro desperdício pior, mas que não reparamos. Não vemos bem o que estamos a deitar fora, porque é invisível. Não sabemos quanto custa, porque não sabemos o seu valor. É o desperdício das nossas capacidades e talentos.

Tanta gente com capacidades fabulosas que simplesmente não são utilizadas.

Imaginemos que Dostoievsky nunca tivesse escrito ou que Mozart se tivesse dedicado à agricultura… ou que o Steve Jobs não tivesse trabalhado ou que Churchill não tivesse ido para a política ou que Madre Teresa não tivesse ajudado os pobres… quanto não perderia a humanidade?

E estes são os exemplos famosos, mas basta pensar como nas nossas simples vidas fazem diferença as pessoas que estão verdadeiramente a realizar o seu talento.

Não usarmos o nosso potencial é um desperdício prático e moral.

Prático porque se perde um talento imenso nas empresas, nas famílias, na sociedade. É desolador ver pessoas tão capazes em organizações onde os seus talentos não são sequer tidos em conta. As empresas podem estar sentadas numa mina de ouro, mas nem se apercebem. Naturalmente que é um puzzle difícil conciliar os interesses individuais com os interesses coletivos, mas vale a pena perceber os contornos de cada peça, perceber que cada pessoa pode contribuir e encaixar na empresa de forma inesperada mas valiosa. Vale a pena conhecer o que verdadeiramente cativa cada pessoa e o que ela faria se não tivesse que ganhar dinheiro? Pode haver um informático que tem um talento natural para música e faria um podcast fantástico, pode haver uma contabilista que adora jardinagem e que pode transformar o ambiente de um espaço, pode haver um técnico que tem imensa empatia com pessoas e daria um excelente comercial…

É também um desperdício moral, porque o que fazemos é essencial para a nossa realização pessoal. Estar a maioria do tempo a fazer algo que está aquém das nossas capacidades é um crime. Utilizar a totalidade dos nossos talentos não é um sonho a seguir, é uma obrigação a cumprir!

Temos uma obrigação moral não só de descobrir os nossos talentos mas de os utilizar! O mundo precisa deles.

E não basta a vida do trabalho, o mesmo se aplica na nossa vida pessoal e familiar. Se alguém é bom a acolher pessoas em casa, que o faça regularmente! Se alguém tem um talento para educar, que aprofunde isso! Se alguém vibra com a paternidade, que a viva generosamente!

A vida tem muitas dimensões, e não podemos exigir a realização plena dos talentos em todas as áreas da nossa vida, mas podemos e devemos procurar e melhorar incessantemente.

Nem todos temos talentos extraordinários, mas não precisamos de os ter. Mesmo as coisas mais simples podem ser feitas de forma extraordinária.

Sentimos que a nossa vida está a ser desperdiçada?

Ótimo! É sinal que há algo em nós que não está satisfeito. Levemos isso a sério, procuremos mais.

Se temos um trabalho onde as nossas capacidades são subaproveitadas, basta de esperar que alguém as leve para a frente, temos que ser nós! Ninguém vai levar-nos ao colo, os outros já têm as suas vidas e as suas preocupações, não deleguemos o nosso futuro em ninguém. É esse o nosso trabalho e de mais ninguém: descobrir e utilizar a totalidade das nossas capacidades.

E se temos um trabalho onde não utilizamos o nosso potencial, mas não conseguimos abdicar do rendimento que o trabalho nos dá?

Então dediquemos o tempo fora do trabalho a aprofundar essas capacidades, a pensar no que é possível mudar, e implementar pequenas melhorias consistentemente! O que é garantido é que se repetirmos o que sempre fizemos, não vamos conseguir mudanças. Está nas nossas mãos acabar com o maior desperdício: o nosso talento.

Somos chamados a cumprir aquilo para o qual nascemos.

As coisas grandes nascem pequenas. Comecemos agora.

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