As tecnologias já andam a mudar a forma como comunicamos há algumas décadas.
Já brincámos com o mirc, Messenger e hi5. Já enviámos emails à barda, sms gratuitos e fizemos chamadas em conferência. Muitos likes no Facebook, Skypadas, Gmails, Whatsapp e por aí fora. Aprendemos a escrever abreviado usando expressões que vão desde o antigo ddtc ao divertido yolo…
(Neste momento, a malta mais velha enche o peito de orgulho e lembra-se de instrumentos medievais como o telefax, ou de como era viver antes do “advento da internet”). Deixando idades de lado, o ponto é que comunicamos através de muitas tecnologias diferentes.
Mas por muito que mudem e avancem as tecnologias, nada substitui uma conversa cara a cara…
Sem desvalorizar as maravilhas que estas tecnologias nos dão (rapidamente falamos com um amigo no outro lado do planeta), a realidade é que assistimos frequentemente a episódios bizarros… sendo que coisas de grande importância são ditas de forma quase banal.
Atenção que esta história é real: Já ouvi malta mais nova dizer que tinha começado um namoro no Facebook.
Para além do choque inicial, e uma vez confirmado o facto, questionei-me acerca da logística da coisa… Dá-se muitos likes? Manda-se uma mensagem? Muda-se o status?
Daqui a nada pedimos em casamento via sms:
Olá tudo bem? Gostei imenso de te ver ontem. Queres-te casar comigo? Beijocas. ps- se sim, não te esqueças de actualizar o status no Facebook.
À parte de comédias – que não faltam no mundo real – esta nossa falta de sensibilidade, revela uma dose generosa de imaturidade e até cobardia.
Sou capaz de expor os meus dramas na internet, mas depois não falo com verdade num café com um amigo?
Sou capaz de mandar um email a dizer que saio de um grupo de voluntariado que dura há anos, mas depois não explico as minhas verdadeiras razões ao vivo?
Sou capaz de dizer gosto muito de um rapaz no chat do email, mas depois ao vivo nem tenho coragem de lhe falar?
Se sim, alguma coisa está errada. Vamos então virar a coisa pela positiva e ver as razões pelas quais o cara a cara é melhor:
1. Evitar mal entendidos.
Ao vivo há uma enorme informação que processamos sem nos darmos conta. Como ele ficou corado ao falarmos daquilo, como me evita olhar nos olhos, como se ri imenso ou como tem um ar relaxado. Um sms não tem voz triste nem olheiras. Não fica corado nem tem acessos de irritação.
Mesmo no trabalho, um email a explicar o que quero que alterem num projecto, pode levantar muitos mal entendidos, e uma simples conversa ao vivo pode resolver a coisa.
Por muito que a tecnologia evolua – e vão sempre prometer coisas mais espectaculares – falar directamente com uma pessoa ajuda a evitar muitos mal entendidos. A quantidade de mal entendidos que nasce dos sms, mails, fotografias e comentários que enviamos, dava para por o mundo inteiro a rir.
(Quando ele chegou ao chat, fiquei logo no modo “ausente”. Acho que ele percebeu a mensagem.
Trust me: se ele é rapaz, definitivamente não percebeu a mensagem…)
2. Acompanhar tudo o que se passa.
Um dos fenómenos da comunicação não presencial, é que se multiplicam as informações partilhadas através de várias plataformas. Chovem mensagens através de emails, fotografias, sms, updates e comentários. Às vezes nem conseguimos responder, tanta é a informação que nos chega.
Numa conversa cara a cara, apanha-se tudo (ou pelo menos quase tudo). Apesar das subtilezas maravilhosas da comunicação não verbal, ao vivo conseguimos acompanhar o que se passa: percebemos se o outro está alegre, triste, ou apenas com fome. Simplesmente percebemos estas coisas, e não precisamos de descodificar mensagens encriptadas em 10 plataformas digitais.
3. Desfrutar de relações reais.
É sempre possível ser outra pessoa online. Podemos ser populares, ter 1000 amigos, imensos likes, e receber imensos sms, fotografias ao pôr do sol no perfil, comentários divertidos, e vídeos espectaculares.
Mas tudo isto se esfuma na realidade. Para que servem 200 shares num post, quando à noite estamos sozinhos?
Às vezes acabamos por alimentar relações num mundo de fantasia. Estamos tanto tempo com alguém virtual, que nos esquecemos quem é a pessoa real. As relações na vida real dão sem dúvida mais trabalho, mas são definitivamente melhores. Relações reais de carinho e afectividade valem sempre mais que relações entre 2 seres virtuais. Não há smiles e comentários online que se comparem com um cafuné.
A questão principal de toda esta conversa é que no fundo… estão em jogo relações entre pessoas. Não nos relacionamos com status de Facebook, nem com fotografias de perfil, nem com caixas de mensagens. Relacionamo-nos com pessoas de carne e osso, com sentimentos e sonhos.
O mundo virtual nunca bate o real. A fantasia nunca compensa a realidade.
Vamos por isso aprofundar as nossas relações reais. Vamos cair na real (ouviu cara?).
Chega de sms fugidios, emails dissimulados e chats ambiguos.
Se quero mostrar que estou desiludido e triste com o que me fizeram, não vou contar com reticências num sms para que o outro perceba. Vou antes combinar um café numa bela esplanada, e falar com maturidade e transparência. Vamos tratar das coisas grandes e pequenas que nos acontecem, em conversas ao vivo e a cores.
Vamos lá investir não em relações virtuais que desaparecem, mas em relações reais que permanecem.
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