Acabámos de ouvir um concerto em que um amigo nosso tocou, e sentimo-nos aliviados ao terminar, de tão sinistro que foi. Para grande desconforto nosso, ele aproxima-se no final com os olhos a brilhar, e pergunta: Então, gostaram?
Nesta altura, esboçamos um sorriso encorajador (e também amarelado) e dizemos grandes afirmações: Foi extraordinário, gostei imenso! Parabéns! Ou então respondemos dissimuladamente :Foi muito interessante a sonoridade, estava um ambiente mesmo giro… Ah, estão ali croquetes? Estou cheio de fome, já não como desde o almoço. Desculpem não resisto… E fugimos com um piscar de olho cúmplice ao amigo, e agradecidos à bandeja de salgadinhos.
Esta caricatura é excessiva… (porque muitas vezes nem temos os croquetes para nos salvar).
Mas o ponto é que acabamos tantas vezes a discorrer elogios doces e não dizemos o que realmente pensamos. Note-se que não queremos pessoas a chorar a ouvir discursos trovejantes e hiper-críticos. Nem queremos destruir os primeiros passos hesitantes de alguém que se aventura num desafio novo. Nem queremos malta com falta de sentido de timming e sensibilidade.
Mas queremos sobretudo que a honestidade esteja no campo da frente das relações que temos com amigos, família e colegas de trabalho.
O maravilhoso das pessoas honestas, é que não vão dizer que a massa com atum está óptima só porque perguntámos. Mas quando realmente a massa está boa, sabemos que é genuíno e absolutamente sentido.
Mas raramente andamos por aqui. Gostamos mais de andar na companhia de amigos que nos elogiam, e não tanto com aqueles que vão apertar connosco. Somos extraordináriamente hábeis a pedir conselhos a pessoas que nos vão dizer o que queremos, e extremamente fugidios para falar sobre o que queremos evitar.
Às vezes só por respeitos humanos ou conveniências deixamos o que acreditamos de lado.
Às vezes temos tanto medo que deixem de gostar de nós, que dizemos tudo o que achamos que o outro quer ouvir. (que raramente sabemos o que é, e frequentemente não é o que precisava de ser dito).
Escondemos o”elefante na sala” e não falamos do que não nos convém. Deixámos de dizer e de ouvir frases assim…
Enxerga-te rapaz, essa rapariga está-te a fazer mal!
Vais ter que trabalhar mais, estás a ser preguiçoso!
Aquilo que disseste foi injusto, magoaste-o só porque estavas irritada!
Faz-te à vida, pára de te queixar!
Na verdade, precisamos de quem nos rodeia para confrontarmos a realidade.
Por muito dolorosa ou difícil que seja, precisamos de confrontar a brutal realidade.
Nada mais que a verdade nos pode bastar. É isso que está em jogo.
No fundo no fundo, por muita resistência que ofereçamos, não queremos viver numa ilusão, nem queremos deixar que os outros vivam.
Temos que desenterrar bem dentro de nós a coragem para sermos honestos, e a humildade para deixar os outros serem terrivelmente honestos connosco. Só com relações assim é que crescemos e fazemos crescer.
É verdade que hoje gostamos muito de amigos que nos elogiam.
Daqui a dez anos vamos agradecer àqueles que foram honestos connosco.
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