Caro Leitor,
Agradeço a sua carta e as preocupações que levanta. Vou procurar ser sucinto na resposta, e não me influenciar pelas suas sugestões ingénuas. Passo a explicar:
A infidelidade treina-se.
Não se nasce bom. Tal como um campeão olímpico não bate um record na sua primeira corrida, também o estimado leitor não se vai tornar um mestre da infidelidade se para isso não treinar muito.
Contudo, pode dar-se o caso de ter tido sorte.
Ou seja, caso tenha sido abençoado com pais super protectores é provável que rapidamente se tenha tornado uma criança muito molinha por dentro. Muito birrenta e chorosa. A sua educação desempenha por isso um papel fulcral. Se foi treinado desde a idade da fralda a pensar assim: “se faço birra, lá vem mais um chocolate, mais um brinquedo”, está a ir no bom caminho. E sim, mesmo mais tarde na adolescência, uma birra pode trazer uma mesada maior e com sorte uma Scooter. Com a birra resolve os seus problemas, e os seus pais dão-lhe o que quer. Nunca teve que lutar por nada. Nunca teve que ser respeitador e verdadeiro. Nunca teve que descobrir a verdade das escolhas dentro de si, e de ser fiel a isso. Por isso, estimado leitor, caso tenha vivido uma educação semelhante, em que a irresponsabilidade, a desonestidade e o amúo são premiados, já é meio caminho andado para se tornar um homem infiel.
Nunca perca por isso o hábito de fazer o beicinho e ameaçar chorar. Dê-se ao luxo de ser mimado.
Tal como os atletas olímpicos que tiveram uma educação espartana imposta pelos pais, e mais tarde atingiram grandes resultados, a sua educação pode favorecê-lo muitíssimo para se tornar facilmente uma pessoa infiel em qualquer área da vida. Sim, leu bem: em qualquer área da vida. Não se trata só nas relações afectivas, mas no trabalho, nas amizades, nos projectos de vida, e consigo próprio. Já está a ver o mundo de possibilidades que tem?
Pois, mas estou a ouvir a sua pergunta: “E se não cresci num ambiente assim? E se fui educado a ser respeitador, verdadeiro comigo e com as pessoas que me rodeiam?”
Caso não tenha sido bafejado com a sorte de crescer com birras e um interior molinho e mimado, nada está perdido. Não desanime: pode ainda tornar-se num fenómeno que fará corar o Casanova.
Mas vai ter que treinar. Vai ter que praticar regularmente a infidelidade. E não é assim tão complicado, basta uma falta de verdade. Uma pequena mentirinha. Depois treine-se, vez após vez, a não contar a verdade. A desrespeitar uma regra aqui, e outra ali. Vai ver que rapidamente já não custa nada quebrar as suas promessas, e fazer o que realmente lhe apetece. Daqui a pouco a sua consciência já não tem força para o travar, e muito menos a sua vontade. Já está quase livre. Porque nós sabemos bem, que quem é fiel e tenta respeitar, são pessoas que não só não se sabem divertir, como são espezinhadas pelos outros.
Por isso, tenho duas excelentes notícias para si. E acredite que as digo por experiência própria:
1. Uma vez treinando a infidelidade, especialmente nas coisas pequeninas, daqui a nada já está a fazer traições grandiosas. São só uns mesinhos para passar de um olhar mais demorado para a mulher de vestido encarnado, para deitar o seu namoro por água abaixo. Um deslize nas contas da empresa, para ter a sua conta bancária bem recheada. Um pequeno compromisso quebrado, para já não confiar no que o seu coração lhe diz.
2. Quanto mais pratica, mais natural se torna ser infiel. É como andar de biciclete. O mais difícil é aprender. Depois é muito fácil andar.
De tanto quebrar os seus compromissos, fazer o que lhe apetece, vai-se tornar natural ser desrespeitador e desonesto. Vai-se tornar extremamente anti-natural ouvir o que a vida pede de si. Vai ser muito natural faltar à verdade que há em si, e a que deve aos outros.
Por isso, amigo leitor, caso não tenha tido uma educação que lhe facilite o desrespeito por si e pelos outros, com treino pode chegar lá. Pratique sempre nas coisas pequeninas – uma pequena mentira à sua namorada, uma desculpa apressada à sua família, um errozinho na gestão do seu projecto.
Tudo o que lhe der mais trabalho que fazer uma cena ou um amúo, não vale o esforço. o essencial é fazer o que lhe apetece agora mesmo. Não vai estar a adiar o seu bem estar agora mesmo pois não? Isso seria um disparate. Esqueça as grandes utopias : o amor, a amizade, o serviço desinteressado, a verdade do seu coração. São tudo coisas de pessoas aborrecidas que não sabem gozar a vida.
Sobretudo encare a vida com muito realismo: faça o que lhe apetece e não o que quer. A vida é curta, e é para tirarmos o máximo partido dela. Deixe-se de respeitinhos e largue esse projecto de vida se já lhe está a pesar. Faça o que lhe apetece e divirta-se ao máximo. O importante é que sentir muita liberdade para fazer o que quiser. Acredite: só vai ser feliz se fizer o que quiser, quando quiser.
Expectante que a minha resposta o tenha ajudado, deixo-lhe os mais sinceros cumprimentos,
O seu fiel amigo: O inesperado
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