Cerimónia

Vamos reflectir acerca da cerimónia. Não no sentido de celebração ou evento, mas no sentido de boa educação, cordialidade em situações relativamente formais. Claro que varia consoante as culturas, mas trata-se de uma relação correcta e apropriada. Vamos começar por extremar posições e ver vários personagens que mostram isto:

PERSONAGEM A: O Cerimonioso

É educado e correcto . Veste-se bem e é  simpático. Faz a conversa “Que casa tão gira que tem aqui!…”

Ou “a sopa está óptima, como a fez?”. “É preciso ajuda a pôr a mesa?”. Ri-se muito das piadas dos outros e concorda com tudo o que lhe é dito. Não se revela muito e é muito cuidadoso nas observações que faz.

PERSONAGEM B: O Animal

Diz o que lhe vem à gana. Não tem respeito pelos mais velhos e come de boca aberta. Não filtra o que diz nem mede as situações.  Quando a tia volta a falar da gata que tinha quando viveu em Vila Nova de Famalicão, o Rebelde diz: “JA BASTA DESTA LOUCURA Ó VELHA, não quero repetir mais peixe, não quero beber mais vinho, e cala-te com a gata!!!”.  Ri-se muito alto, fala ainda mais alto e gosta de escandalizar os que o rodeiam. Concede momentos inesquecíveis para quem se cruza com ele.

PERSONAGEM C: O Educado

É educado mas oportuno. Simpático e informado. Faz conversa e tem histórias interessantes. “O que acharam do debate desta semana com o primeiro Ministro?”. “O que está a contar faz-me lembrar uma vez numa viagem que fiz ao Canadá…” .Ri-se e também diz piadas. Não come demasiado, e levanta questões no momento certo. Sabe gerir os silêncios com um sorriso sereno.

(O Ponderado é bem sucedido a agradar aos pais da namorada bem como a pedir dinheiro a uma tia idosa).

Nós somos naturalmente uma mistura destes personagens.

Mas parece que a boa educação faz bem. Tipo fruta. Faz bem e até sabe bem. Quem ainda não teve aquele sentimento glorioso, de ter dado uma opinião num jantar e alguém ilustre dizer :”Exactamente o que eu acho”. E por dentro, aquele sorriso e diálogo interno “estás a vencer meu caro, estás a subir na escadaria da glória”. ( Pronto talvez seja um pouco excessiva esta descrição).

Saber estar bem em contextos diferentes e com pessoas diferentes sem dúvida que é valioso. Ou seja, não estamos à noite nos copos com os amigos da mesma forma que estamos quando vamos visitar os avós (acho eu). Não falamos com um professor da mesma maneira que com os nossos primos ( a não ser que o professor seja nosso primo…).

Isto faz falta à malta: saber estar. Em situações diferentes. Saber quando calar e quando dar opinião. Não vender aquilo que acreditamos em função de um momento mais correcto, mas saber ser coerente onde quer que estejamos.

Isto da boa educação, faz pensar que realmente hoje em dia fala-se pouco daquelas virtudes: a nobreza, honra, cavalheirismo. Mas estão muito relacionadas. Poucas pessoas as têm. Mas reconhecem-se facilmente. As empresas funcionariam de forma diferente, bem como as famílias e amizades, se mais malta fosse assim bem educada. Ser bem educado mostra-se desde a forma como estacionamos o carro, apanhamos lixo do chão ou deixamos alguém mais velho passar primeiro numa porta. Ser assim faz-nos calar e sorrir, comer sem pressa e com maneiras, corrigir quem erra e preocuparmo-nos com os outros. Faz-nos falar serenamente quando é necessário que falemos e tratarmos todos com a mesma dignidade. Ser bem educado faz bem.

Notas finais:

  • Cerimónia excessiva não é fixe. Aquela exagerada concordância com tudo o que a outra parte diz. Ou as bajulações constantes. É cansativo, e não fica bem. Fica só rebaixamento.
  • Ser javardo e mal educado, é … como dizer… falta de educação. E isso não constrói nada.
  • Ser flexível e sensível às situações mostra bom senso. Saber quando ser disruptivo e quando ser apropriado. Há tempo para tudo. Mas nem sempre há sensibilidade para isso.
  • Saber ir na onda das pessoas com quem estamos. Exemplo:”Aquele quadro é do estilo impressionista?”. Resposta: “Não pató, é a capa do Álbum dos Doors. Deves achar que sabes muito…”. Resposta na mesma onda: “Tens razão. Onde estão as minis?”

Será que o amigo leitor se apercebeu que este post deixa muitas perguntas por responder? Espero que sim. Porque senão estás a fazer demasiada cerimónia.

Comments

Respostas de 6 a “Cerimónia”
  1. Maria

    Caro João, não consegui deixar de comentar o teu post. Talvez por ter falado justamente nessas questões na passada semana, ou porque penso que o debate da “cerimónia” pode justamente dar início ao debate da “educação”.

    É lógico que ninguém é nenhum dos tipos de personagem que descreves (apesar da imagem caricaturada que criaste ter imensa piada). E sim, há que nos saber mover socialmente, com educação. Mas será que essa educação passa por “corrigir” o “animal”? Ser “javardo e mal educado” pode não construir nada, mas não devemos respeitar as pessoas que assim o são?! Não será mais importante respeitar a diferença, saber ouvir, ver e estar? Não será o importante da boa educação a adaptação (de saber estar em ambientes diferentes, não nos descaracterizando, mas tratando todos por igual)?!

    1. Olá Maria! 3 notas para ti consoante as personagens:
      A – muito obrigado pelo teu comentário. Muito interessante
      B – Bolas, mas que raio quer dizer isto da educação, não percebi nada. Preciso de beber.
      C – Obrigado Maria, excelente ponto, a meter a Educação em cima da mesa. Concordo contigo. E mais, no futuro iremos a esse tema:)

      Revejo-me no C, com ou sem educação!

  2. Miguel Bandeira

    João, queria só deixar o meu comentário relativamente a uma condicionante que, na minha opinião, afecta o tipo de personagem que cada um de nós encara: o à vontade com que te sentes.

    Quando estamos num ambiente de gente desconhecida e não sabemos muito bem o que fazer, qualquer acto da nossa parte vai ser premeditado, o que leva invariavelmente à cerimónia (ex: “mas será que já se pode começar a comer as batatas fritas?”). Acontece-me, quando não estou no meu maior à vontade, ser um belo retrato da personagem A.

    Mas lá está, num ambiente de amigos e conhecidos, o à vontade é outro, e aí sim começamos a caminhar no sentido da nossa verdadeira personagem. A maior parte das pessoas chega a ser a personagem C: o educado, mas realmente há outros que se ficam
    pelo A e uma pequena porção que se aventura pela B: o animal.

    Mudando de assunto, deixo aqui o link do meu novo blog, para passares por lá e deixares também o que pensas:
    http://atedaquefalar.blogspot.pt

    1. Miguel, aqui entre nós, sabemos que quanto mais à vontade te sentes, mais te aproximas do B – o animal. ahaha. Ou não, esperemos!
      Parabéns pelo teu blogue, já está a dar que falar!

      Continua em força!

      Um abraço

  3. Mariana

    Esqueceste-te de dizer que não há nada mais sexy que ser bem educado. E faltam referências a abrir a porta do carro para as meninas entrarem, ou coisas tão simples como dar o lugar no autocarro a uma grávida ou a um idoso. Não tem que ser muito, na verdade é pouco, mas as pequenas cedências não rebaixam nada- engrandecem.

    Concordo com o teu ponto de vista, de não se cair no exagero e de se manter a naturalidade, dentro do aceitável. Por exemplo, é educado querer pagar a conta, principalmente se és um Senhor!- eu sou da velha escola que acredita nas diferenças de papéis de géneros. Mas, se esta teimosia é levada ao exagero, pode acabar mal… Ora vejamos: http://www.youtube.com/watch?v=SDy7MbVd2F8
    Às vezes a outra pessoa quer mesmo ser simpática! E é melhor deixar ou ainda se aleija alguém…

    1. Olá Mariana!
      Sabes que às vezes não apetece nada dar o lugar a quem mais precisa, mas tens razão, até faz bem! Pois é o cavalheirismo está pouco em voga, mas também – sendo eu homem – pagar sempre a conta… ui ui… Ainda acaba tudo à pancada :)

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