Quantas vezes não damos por nós feridos?
Um desentendimento no trabalho, uma discussão no casamento, uma palavra que nos atingiu. Uma relação magoada com um pai, uma mãe, um irmão.
No calor do momento nem sentimos, porque nos ocupámos da defesa e reação, mas depois já a sós… damos por nós a sofrer e a recordar o violento golpe…
E é aqui mesmo que começa o disparate. Por treino ou por teimosia, ignoramos o que estamos a viver: “isto com o tempo passa”, “não foi nada, nem vale a pena chatear-me com isto….”
🌩️ Mas há feridas que não passam com o tempo.
Têm que ser tratadas. Sem o percebermos damos por nós em fúria com um amigo ou tristíssimos no trabalho e nem percebemos porquê. Mas é simples: se não cuidamos da nossa ferida, ela vai continuar a sangrar por outro lado.
Naturalmente há pequenos atritos e desentendimentos que passam com o tempo, não temos que cuidadosamente lidar com todas as dificuldades e inconvenientes, mas há situações mais complexas e discussões mais violentas – nós sabemos quais – que deixam feridas abertas.
Como podemos então lidar com uma ferida?
🔥 Desinfetar – deixar a dor doer. Porque só assim tomamos conta que temos uma ferida e que precisa de ser revisitada, purificada para poder cicatrizar
🛡️ Proteger – recordar que tantas vezes ficamos magoados porque não recebemos o amor que desejávamos, e que expressamos de forma desastrada o que queremos. Era amor que estava em jogo, é amor que agora nos pode proteger.
🌱 Regenerar – Apanhar ar, partilhar com coragem, dar uma nova oportunidade.
Apenas amadurece quem toca a dor.
E assim aos poucos, o que era uma ferida, torna-se uma cicatriz. Que tem uma história e uma lição que nos ajudou a crescer. Que nos pode até deixar orgulhosos.
Que ferida posso ter em mim que precisa de ser atendida?
Ainda espero o amor como no ringue o lutador caído espera a sala vazia.
José Tolentino Mendonça
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