Como mudar melhor.

Muda o clima, mudam as árvores. Mudam as ruas, mudam as cidades. Mudam os corpos, mudam as vidas. É simplesmente difícil evitar que as coisas mudem, dentro e fora de nós.

Mas como mudamos então? Quando muda alguma coisa grande na nossa vida – morre alguém de quem gostamos, ficamos sem trabalho, atrasamos a universidade mais um ano – como integramos esta informação?

Normalmente vamos a correr para uma de 3 portas:
1. Adaptação imediata à mudança.
Por vezes gostamos de montar um teatrinho e representar uma adaptação indolor e rápida. Tentamos iludir  as pessoas com quem falamos, usando frases como: Já estou óptimo, é dificil mas eu aceito isto. Sim, é uma chatice, mas  já passou.
Bullshit! Gostamos é de mostrar que aceitamos tudo muito rápido, gostamos de fazer de heróis.
Naturalmente não queremos arrancar umas lágrimas à força – para isso ficamos pelas cebolas – mas as coisas grandes de que falamos, levam tempo a entrar em nós. E esta ilusão de adaptação imediata, é apenas superficial. Soluções imediatas não existem.

2. Negação da evidência.
Outras vezes, entramos numa espécie de estado alienado como se nada se passasse. Fingimos que está tudo na mesma – que não tenho saudades, que não dói o coração por ter perdido aquilo, que não me sinto inútil por não ter um trabalho – mas nada está na mesma. E isso não é um problema. O problema é fingir que nada se passa.

Somos como aqueles primos mais novos que fingem que não se magoam quando lhes apertamos a mão com força.
Gostamos de fingir que não estamos a sentir nada. Convencemo-nos que alguma mudança não nos afecta.
Mas há uma dor implicada ao passar de uma situação conhecida para uma desconhecida, ao perder um sentido de pertença, segurança e felicidade.

3. Baixar os braços.
Como as coisas não correm como planeámos, e só nos calham mudanças que não queríamos, amuamos. Baixamos os braços.
E fazemos isso de várias formas: Começamos a evitar programas, temos medo que nos façam  perguntas, e tornamo-nos ressentidos.
Eu sei como é que as coisas realmente são. Nada vale muito a pena.

inesperado.org_Mudar melhor

Facilmente percebemos que estas formas de lidar com a mudança não nos servem e que a mudança em si é inevitável. Como dizia um autor americano, temos que mudar a forma como mudamos. 
Mas como podemos mudar a nossa forma de mudar?

1. Ser honestos com a nossa história
Para começar: se formos honestos conseguimos dizer várias mudanças na nossa vida que achávamos más, mas que se tornaram espectaculares.
Ter saído daquele trabalho foi a melhor coisa que fiz. Ter trocado de curso foi o melhor que me podia ter acontecido. Acabar aquele namoro fez-me muito bem.

Vamos deixar-nos de queixinhas quando as coisas não correm como planeámos. Vamos antes fazer com que esta alteração, este evento, esta ruptura, ajude a definir uma nova vida. Vamos ser honestos connosco e com o que já aprendemos no passado.

2. Aprender com os melhores
Podemos aprender com aquelas pessoas extraordinárias, que se conseguem adequar a situações extremas – um diagnóstico de uma doença, uma tragédia, uma mudança repentina.
Quem conhecemos que tenha sido um exemplo a lidar com alguma mudança inesperada?
O que podemos aprender com essa pessoa? O que somos capazes de transpor para a nossa vida?

3. Percorrer a dor de A a Z
Daqui a 2 anos, estamos numa situação normal e… shazam! Estoira alguma coisa bem fundo de nós, e tornamo-nos violentos, erráticos, tristes. E ainda para mais estamos confusos, por não sabermos de onde vem tudo isto.

Precisamos de harmonizar com serenidade todas as alterações que acontecem e mexem com a nossa vida. Se queremos aprender a mudar na nossa vida – e não começar à chapada com toda a gente  – temos que integrar tudo muito bem. A dor tem que ser vivida de A a Z. Não podemos saltar nenhuma letrinha, senão salta-nos a tampa e o abecedário todo.

Precisamos de saber fazer luto. De chorar o nosso sentido de perda – de alguém, de alguma relação, de um trabalho – e sentir essa dor. Sem espernear nem fugir apressadamente. Não oferecer resistência à dor. Calmamente, dia após dia, deixar sentir a dor, e continuar. Temos aprender a conviver serenamente com a dor, a vivê-la de A a Z.

E quando fazemos isto, abrimos uma possibilidade que antes nos parecia estranha…
As coisas que não planeámos acabam por ser oportunidades gloriosas para nos transformamos no que nunca ousámos ser.

Comments

Respostas de 6 a “Como mudar melhor.”
  1. constança

    Primo UR AWSOME!!!!!!!!

  2. Adorei! Fantástico! É assim que nos apercebemos de pequenas (grandes) mudanças que podemos deixar acontecer na nossa vida. A última frase diz tudo :)

  3. Zé Maria

    mesmo a calhar! grande post :)

  4. ines abreu

    Espectacular João! Completamente na mouche.

    Gostei especialmente da frase do “autor americano”.

    1. Thanks. O autor é o Gary Hamel, guru dos negócios :)

      1. ines abreu

        ah achei que era tua.

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