A álgebra e o amor

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E assim aprendemos a contar. Com paciência, com repetição, com memória.

Será que como aprendemos a álgebra, também assim podemos aprender a amar?
Com paciência, com repetição? Com memória?

Pois sim.
Quem nos formou, construiu-nos num universo de paciência, numa multiplicação de generosidades. Toda essa atenção fabricou o nosso tecido interior.
E como essa atenção não basta, a repetição reforçou em nós a aprendizagem do amor. “Gosto muito de ti”. Beijinhos, milhares deles, a propósito e a despropósito. E de novo a propósito. E mais beijinhos. Já te disse? “Gosto muito de ti”.
Esta experiência tão extraordinária quanto comum ,torna-se uma memória. Um lugar ao qual voltamos sem grande esforço, uma lembrança interna, uma casa que não tem preço.

Aprendemos por isso a amar. Porque antes, aconteceu connosco.

Mas para os olhos mais atentos, a contagem no início deste texto falha um numero. O 16.
Um pouco depois do meio do caminho, falha-nos alguma coisa. Se calhar não sabemos toda a álgebra. E se calhar também não sabemos todo o amor. Apesar do exercício horário, diário, mensal, de amar, há um momento que saltamos alguma coisa de importante. A paciência, a repetição e mesmo a memória não nos bastam para saber o caminho todo. Há sempre alguma coisa que nos escapa.
E a aprendizagem do amor está também aí: falhamos ao amor quando o já sabemos de cor.

Por isso, é necessária uma revolução. Um movimento de vida que preencha as lacunas do que temos e do que damos. É necessário tornar o amor um caminho primário, tão fundamental quanto o foi na génese da nossa vida. É necessário voltar a aprender a amar. Com tudo o que fomos. Com tudo o que somos.

E o bom do amor é que nesse mercado – que foge tanto aos mercados e à álgebra –  não há falta de trabalho nem emprego:
Há ruas por amar, amigos por amar, inimigos por amar.
Há árvores por amar, amarelos por amar, sons por amar.
Há músicas por amar, livros por amar, viagens por amar.
Há saúde e há doença por amar.
Há empresas por amar, cidades por amar, países inteiros por amar.
Há um mar por amar.

E assim sim, vamos aprender a amar.

Comments

Respostas de 10 a “A álgebra e o amor”
  1. Cátia

    “Falhamos ao amor quando o já sabemos de cor.” No fundo, numa relação, nunca devemos parar de trabalhar e lutar por ela. Quando se entra na rotina vem o desleixo seguido do acomodar, e por fim o desencanto. Não sei se era aqui que pretendia chegar, mas este texto fez-me lembrar este encadeamento (infeliz) de acções.

    Ps. Excelente post e blog (venho tarde mas ainda a tempo espero)

  2. Mariana

    …é que cada vez acho mais que quanto mais simples, melhor! tal como a “máxima” – “less is more”.
    espero sinceramente que venha aqui muita gente pois só têm a ganhar!
    keep it going, se possível “forever”…:-)

  3. Falaram-me deste blog dizendo que valia muito a pena ler.
    Normalmente não fico muito bem impressionada quando tenho sugestoes deste genero.. desta vez superou as minhas expectativas.
    Marivilhoso.
    Gosto muito do “outside of the box” thinking que é representado pelo que escreves.
    Não te conheço, nem tu a mim, mas parabéns e obrigada por tornares público o teu talento.
    Btw… também tenho um blog. Diferente, mas a meu ver, também interessante de alguma maneira.
    Aqui está um dos meus textos preferidos caso tenhas curiosidade em ver.
    http://purezaleitao.blogspot.pt/2012/05/coracao-temos-de-falar.html
    Obrigada!

    1. Olá Pureza!
      Obrigado pelo teu comentário :)
      Parabéns pelos teus textos e por teres um blog!
      Já houve partes que me fizeram rir:
      “Não deve bater bem da cabeça.”
      Não.
      Não bato.”

      Continua a aparecer!

  4. Ctrl-Alt-Stay

    You’ve got it all…

    1. Não faças Ctrl-Alt-Del. Pelo menos aos berros

  5. Está brilhante! Obrigada e Parabéns!

  6. lili

    Obrigada!
    Pela partilha, pelo relembrar…
    amar tem muito que se lhe diga, tem algo inaplicável que só se sabe vivenciando
    então agradeço por me levares a recordar o amor com o teu texto

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